Chipre-Portugal: Dez minutos souberam a pouco (crónica)

Uma seleção de Portugal que realizou a pior exibição em jogos oficiais sob o comando de Paulo Bento saiu do Chipre com uma goleada (4-0) e com a primeira posição no seu grupo de apuramento para o Euro2012 reforçada. Valeram os dez minutos finais, a fragilidade do adversário e uma pequena ajuda do árbitro.

Quem não viu o jogo achará o resultado natural. Afinal, ninguém duvida que a seleção de Cristiano Ronaldo e Nani é incomparavelmente superior ao Chipre, para quem o empate no jogo em Portugal foi o maior feito da história recente e que não ganha um jogo há mais de um ano. Mas o jogo na quente noite de Nicósia não justificou um resultado tão desnivelado.

Começou melhor Portugal, com Nani a mostrar, logo aos 2 minutos, que iria ser um dos mais ativos jogadores vestidos de vermelho. A primeira ocasião de golo aconteceu aos 12 minutos, com João Pereira a permitir a intervenção do seguro guardião Giorgallidis. Pepe, quatro minutos depois, também esteve perto de marcar. Só dava Portugal, empurrado por João Moutinho, e essas facilidades iniciais entorpeceram os comandados de Paulo Bento, que foram perdendo gás, parecendo estar à espera que a vitória caísse do céu.

Não foi do céu, mas das mãos de Domprasinovic, que nasceu o golo. O médio cortou na sua grande área um remate inofensivo de João Moutinho e o árbitro italiano Gianluca Rocchi assinalou de imediato grande penalidade e expulsou o cipriota por acumulação de amarelos. Pareceu lance para grande penalidade, de facto, mas muitos árbitros não o apitariam. Aproveitou Cristiano Ronaldo para, com tranquilidade, inaugurar o resultado.

Parecia estar feito o mais difícil. Pensava-se que, como costuma ser habitual em situações de jogo idênticas, o resultado se avolumasse. Afinal, Portugal estava a jogar contra dez. Mas a verdade é que a exibição da equipa nacional piorou.

Lentidão e sonolência

A segunda parte mostrou um Portugal ainda mais lento e amorfo. Ronaldo, mais uma vez, não mostrava a qualidade que faz dele um dos dois melhores do Mundo e parecia estar afetado com as provocações dos adeptos locais, que o assobiavam sempre que tocava na bola e gritavam "Messi, Messi, Messi"... Nani baixou também de produção. Sem os dois alas a mostrarem do que são capazes, o onze português fica emperrado. Ainda para mais com Helder Postiga e Ruben Micael a mostrarem porque foram para o Saragoça e não para um colosso europeu, e com Fábio Coentrão e Raul Meireles longe da melhor forma.

Coentrão ainda acertou no poste aos 56 minutos, e Paulo Bento tirou Ruben Micael (o que é feito do jogador que fez uma época fabulosa ao serviço do Nacional?) e pôs Miguel Veloso, mas a falta de ritmo dos portugueses fez os cipriotas acreditarem que ainda poderiam alcançar outro milagre. Que esteve quase a acontecer aos 76 minutos, não fosse o árbitro tirar erradamente um fora de jogo a Okkas – de longe o melhor cipriota -, quando o avançado de 34 anos só tinha Rui Patrício pela frente.

Portugal só respirou de alívio aos 82 minutos, quando Ronaldo tirou finalmente um coelho da cartola e marcou um golo... à Ronaldo, tirando dois adversários da frente e rematando sem hipóteses.

A seleção de Chipre morreu ali. Os dez minutos finais foram de festival português. Hugo Almeida, entrado para o lugar de Postiga, marcou o terceiro logo a seguir e Danny, já em descontos, fechou a contagem. E mais golos poderiam ter acontecido nos minutos finais.

A verdade é que, contas feitas, a Portugal só faltam dois jogos e estamos em primeiro lugar no grupo. Segue-se a Islândia, a 7 de outubro. Esperemos que a exibição seja outra. Se não for possível, que se repita o resultado de hoje.