Algumas notas sobre o Benfica-Trabzonsport:

1. Bom resultado;
2. Turcos defenderam bem na primeira parte, colocando muita pressão sobre o ‘motor criativo’ do Benfica (Aimar) e tentaram espreitar o contra-ataque, em movimentos simples, com base na velocidade;
3. Benfica não se deu bem com essa pressão sobre o meio-campo e fez uma primeira parte desligada;
4. No segundo tempo, com a equipa de Trabzon a tentar chegar ao golo, o Benfica encontrou mais espaços e Nolito respondeu melhor comparativamente a Enzo Pérez;
5. Gaitán deu brilho à vitória do Benfica com um golo primoroso;
6. Artur respondeu bem à pressão colocada por Eduardo e... pelo próprio Benfica;
7. Luisão mostrou, mesmo sem trabalhar com os novos jogadores, por que motivo é determinante neste momento no espaço defensivo (o jogo posicional e a recuperação da bola em lances de aparente ‘espaço perdido’ mostraram bem a sua influência na defesa encarnada e no ‘posto de comando’);
8. Com Garay, a defesa do Benfica pode arriscar, outra vez, jogar um pouco mais subida no terreno, mas esses movimentos combinados só podem ganhar eficácia quando a defesa (definitiva) tiver tempo de competição suficiente para arriscar o fora-de-jogo e também a pressão global sobre o adversário;
9. Com Javi Garcia e Aimar como vértices mais recuado e adiantado do losango de meio-campo não vai ser fácil arranjar lugar para Witsel, cuja capacidade não deve ser desperdiçada;
10. O plantel do Benfica para esta época passou a contar com jogadores que não entram ’de caras’ na primeira equipa (lógica a opção de Jorge Jesus em utilizar automatismos adquiridos por Javi Garcia, Aimar, Gaitán, Saviola e Cardozo), mas podem ser muito úteis durante a temporada, pelo que não se pode falar, para já, numa equipa mais forte, mas num plantel reforçado nas suas ‘segundas linhas’.

Perante estes factos quais são as questões que se colocam, no imediato, a Jorge Jesus:

1. Vai conseguir manter Luisão disponível para jogar em pleno no Benfica e comandar a defesa? É crucial que a resposta seja afirmativa. No plantel, não há outra solução do mesmo valor, ao ponto de dizermos que, na ausência de Luisão, a melhor solução seria Javi Garcia, com Matic a entrar, nesse cenário, para a posição ‘6’ (ou mesmo... Witsel).
2. É possível colocar Witsel no ‘onze’ sem tirar da equipa futebolistas como Javi Garcia, Aimar e Saviola, jogadores mais ou menos ‘sagrados’ para Jorge Jesus? Possível é, mas com o risco de roubar profundidade ao jogo lateral exterior da equipa;
3. Como manter motivados jogadores de nível similar que ocupam sensivelmente as mesmas posições, considerando que o plantel do Benfica passou a contar com muitas soluções de jogadores que ocupam tão bem o espaço exterior como espaços interiores da equipa, como são os casos de Enzo Pérez, Gaitán, Nolito, Bruno César, Jara e mesmo Saviola? Uma das soluções é gerir a hora-e-meia, de acordo com as vicissitudes de cada jogo, tendo os atletas preparados para jogar 60, 45 ou 30 minutos, preferencialmente. A alternativa passa por sacrificar jogadores 'angulares' como Aimar e Saviola, sendo certo que Cardozo não tem concorrente... à altura.

Temos pois questões desportivas, no plano estratégico e táctico, para considerar. Temos ainda questões de natureza psicológica e motivacional que não devem ser deixadas ao abandono. Tudo isto decorre da dificuldade que o Benfica tem encontrado em manter uma base sólida de soluções. Este (novo-velho) Benfica está numa fase em que... ainda dá para tudo.

(Rui Santos escreve de acordo com a grafia do português pré-acordo ortográfico)