A favor do Bento | Relvado
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Como tudo na vida, o futebol vive de conjuntura

 

Vimos isso, nos últimos anos, na Selecção Nacional, com Scolari e Carlos Queiroz, e estamos a observá-lo, de novo, com Paulo Bento.

Refiro-me essencialmente aos jogadores. Há ciclos em que quase não é necessário qualquer tipo de intervenção (começo da ‘era Scolari’) e outros há em que se torna imperioso muito procurar (fim do consulado de Scolari e toda a ‘era Queiroz’) para se achar soluções para determinadas posições.

No último Mundial, não tínhamos Bosingwa, o melhor lateral direito era Paulo Ferreira (e não estava em ‘forma’) e Miguel era o ‘pisca-pisca’ que vem sendo nos últimos tempos. Até Jorge Jesus apostar definitivamente em Fábio Coentrão e fazer dele um jogador excepcionalmente competitivo, foi um caso sério para se encontrar um defesa-esquerdo. Na verdade, não havia. 

Na baliza, depois das polémicas com Ricardo e Quim, construiu-se a ‘solução’ em redor de Eduardo. E quanto a pontas-de-lança sabemos, todos, das dificuldades, que aliás ainda se mantêm.

Quer dizer: depois da consagração de alguns jogadores que haviam sido campeões europeus com Mourinho, no FC Porto, e com o fim de ciclo de Fernando Couto, Jorge Costa, Rui Costa, João Pinto, Figo e Pauleta, designadamente, começou a ser mais difícil encontrar os chamados ‘indiscutíveis’.

Para além do clima de sustentação que se constitui em redor dos seleccionadores nacionais -- às vezes não é necessário exibir grande competência para se ser tratado pela entourage que segura os treinadores como fautores de ‘inequívocas qualidades’... --, uma transferência, uma mudança de estatuto profissional, a mera subida de ‘forma’ em razão de um melhor enquadramento desportivo nos respectivos clubes, podem determinar a mudança de conjuntura, com implicações positivas na Selecção Nacional.

Foi o que aconteceu com o actual meio-campo de Paulo Bento: Raul Meireles ingressou no Liverpool e transformou-se numa unidade de ainda maior rendimento; Carlos Martins beneficiou do ‘pé-coxinho’ de Aimar e consegue jogar mais no Benfica; Moutinho estava ‘em quebra’ e desconsiderado no Sporting e bastou rumar ao FC Porto para estabilizar o seu rendimento.

No Mundial, ‘não havia’ João Pereira nem Sílvio e eles aí estão, nos seus clubes, a demonstrar que têm valor para discutir a titularidade na Selecção Nacional. Muito bem Paulo Bento a aperceber-se do excelente momento de ‘forma’ do lateral direito Nélson, em evidência no Osasuna, e a dar-lhe um lugar no jogo com a Finlândia que o ex-benfiquista soube aproveitar, exibindo-se em grande plano.

De repente, para um lugar difícil de preencher (no Mundial, ‘sem’ Paulo Ferreira, Miguel e com Rúben Amorim condicionado, foi preciso deitar a mão a Ricardo Costa...), há João Pereira, Nélson, Sílvio, Bosingwa e ainda as remediadas opções que já existiam há dez meses...

Poder-se-á dizer que os treinadores também mudam as conjunturas, porque as coisas só acontecem se houver um golpe de asa ou outra afoiteza. Paulo Bento tem o mérito de não contrariar a conjuntura que lhe oferece boas soluções. Como se diz no futebol, não estragar. Esse culto da simplicidade, que faz de Bento ‘mais um’ entre pares (é uma espécie de jogador mais velho que fala a mesma linguagem dos jogadores), é algo que está ser optimizado. E bem.

No Mundial, o azar com Nani e Quaresma eclipsado, antes de rumar à Turquia. Agora, Nani em pleno no Manchester United (a fazer uma grande época), Quaresma a arribar (compensando a ‘baixa’ decidida por Simão, porventura pressionado com o peso dos anos e com os problemas da sua vida pessoal) e last but not least o efeito da entrada de José Mourinho no Real Madrid, com a influência que exerce sobre Ricardo Carvalho, Pepe e Cristiano Ronaldo e a ‘ponte’ estabelecida com Paulo Bento, na gestão dos 'activos' e das sensibilidades. É um grande apoio!

Bento portanto a soprar de feição entre as estruturas e as conjunturas.

Sabem o peso da influência de José Mourinho, não sabem?

Sabem o peso que Jorge Mendes tem sobre os jogadores na fortíssima aliança com Mourinho, não sabem?

Sabem o que isso arrasta, não sabem?

Sabendo isso, percebe-se por que razão o vento sopra com força e de feição.

É preciso... saber aproveitar e é isso que, com tranquilidade, Paulo está a saber fazer.

A Selecção Nacional e os portugueses agradecem.

 

Taxonomia: 
Rui Santos

a selecção de paulo bento..

..está naturalmente em estado de graça.

A grande maioria dos portistas e benfiquistas simpatizam com ele, e os sportinguistas (nem todos) não deixam de ter orgulho em ter o ex-técnico na selecção.

A vitória sobre a espanha num jogo a feijões, serviu ainda mais para animar os adeptos.

Por outro lado, temos uma CS com uma postura absolutamente distinta relativamente àquilo que aconteceu com CQ.

Como diz e bem o artigo, Paulo Bento tem tido o mérito de fazer opções simples e no que respeita aos adeptos dos 3 grandes vai repartindo o protagonismo dos seleccionáveis. Carlso Martins sem mostrar grande futebol mantém-se titular na selecção, Ruben micael fora das opções de AVB é convocado, André Santos do sporting faz a estreia. Para não falar de outros casos especificos cujas opções são discutíveis. Ou seja, vai agradando a todos, o que reval alguma inteligência.

É claro que nem tudo é perfeito. Ainda falta coragem a Paulo Bento para apostar em João Tomás (eterno esquecido) ou em Miguel Fidalgo, quando Postiga e Hugo Almeida continuam com exibições sofríveis. São mais 2 casos de 2 jogadores que estatisticamente ficarão para a história da selecção, após anos de protecção injustificavel da parte dos seleccionadores.

A questão Real Madrid é outra que contradiz a suposta isenção de Paulo Bento. No jogo anterior frente à argentina descansou Ronaldo por indicações de Mourinho, frente ao Chile, Pepe e R.Carvalho repartiram os 90 min, e ao que parece ainda afirmou que o real madrid - gijon era mais importante que o benfica - porto. Por mais jogos que faça, RC e Pepe no real madrid era importante jogarem mais tempo juntos na selecção.

De qq das formas e de um modo geral o trabalho de Paulo Bento é positivo e cá estaremos à espera de festejar a qualificação para o Euro2012!

Tendencioso

Obviamente que Queiroz não teve todos os jogadores do FCP de Mourinho e alguns jogadores já estavam na fase descendente da carreira, mas contou com dois naturalizados de peso (Pepe e Liedson) e jogadores como Nani, Bruno Alves, Coentrão, etc que o Xerife não tinha. O único jogador que Queiroz valorizou na selecção foi Danny, todos os outros eram jogadores da era Scolari ou tiveram um rendimento nos seus clubes que justificava de uma forma clara a convocatória.
Continua a defender-se C.Q. de uma forma tendenciosa... então João Pereira não vai ao Mundial porquê, quando foi o melhor lateral direito do último campeonato? Este ano que tem estado bem pior no clube é indiscutivel. Além disso, quem é que não convocou Moutinho? Quem é que nunca apostou em Postiga? Quem ostracizou Ruben Micael quando no Nacional jogava a um nível sensacional? Quem ignorou Carlos Martins? Dizer que a conjuntura de Paulo Bento é mais favorável só pode estar a brincar... De um momento para o outro ficou sem Miguel, Paulo Ferreira, Tiago, Deco e Simão, cinco jogadores que desde 2003 eram regularmente convocados e ainda apanha uma conjuntura favorável? Porque será que não afirmam que Postiga e Martins foram apostas ganhas de Paulo Bento ao contrário do seu antecessor cujas opções eram muito duvidosas?

Não

A resposta às 3 perguntas é um claro e redondo não, nem entendo sequer como se quer ensombrar o relativo sucesso de Paulo Bento através do nome de Mourinho. Não entendo nem quero entender. Que Paulo Bento beneficie das boas relações que existem actualmente com os clubes, situação que também é da responsabilidade dele e advém da sua forma de estar pacífica com todos eles, aceito. Scolari, por exemplo, não soube fazer o mesmo. Admito até que o Paulo Bento possa merecer uma atenção especial de Mourinho nesta fase, depois do Special One se ter deixado embevecer pela hipótese de tapar o buraco após a saída de Queirós e ter ficado mais próximo da Selecção. Mas atribuir o que a equipa tem feito de bom a outro técnico que não Paulo Bento?! Nem pensar, isso é fantasia pura... Bento merece todos os elogios nesta altura. E só ele.

Outra coisa, Rui: não há factores alheios às boas ou más escolhas dos seleccionadores, por muito que se diga o contrário. Nélson não foi convocado antes porque Queirós não quis, não ligou nem lhe deu crédito algum, honra seja feita ao Paulo Bento ao dar-lhe total confiança nesta chamada. Alguém se lembraria dele se o seu nome não tivesse aparecido na lista?! A mesma coisa com Sílvio e mais ainda com João Pereira. Ou é preciso irem parar a um grande ou marcarem presença nos Quartos da Liga Europa para poderem representar a Selecção? Sílvio não era bom o ano passado? João Pereira não era bom o ano passado? João Moutinho não era, de caras, jogador para marcar presença no Mundial?! Essa aselhice é responsabilidade do Queirós. Ponto! E, nesse particular, Paulo Bento tem estado muito melhor. Não tem nada a ver com conjunturas, até porque já ganhámos inclusive sem o Ronaldo e já conseguimos ver um bocadinho do Danny de clube com a camisola das quinas ao peito (até aqui, com Queirós, era uma sombra do Danny do Zenit).

De mais a mais, a grande diferença entre esta Selecção e a "outra" está exposta à descarada e até o mais desviado dos olhos consegue ver: lógica nas escolhas, entrosamento, alegria, prazer em representar a Selecção, motivação, espírito de equipa, liberdade para arriscar, vontade de correr, respeito para com o líder, ambição para os jogos oficiais que faltam. Ainda não tem nada a ver com tácticas, com modelo de jogo, com processos adquiridos ou com estratégias pontuais. Este ressurgimento da nossa Selecção Nacional, aquela com que todos os portugueses se identificam, tem essencialmente a ver com algo muito mais profundo do que tudo isso: PSICOLOGIA!

O futuro a Deus pertence e o Paulo Bento ainda tem muito caminho a trilhar mas, para já, temos é de lhe dar os mais sinceros parabéns pelo que tem feito e nunca ousar confundir o trabalho dele com o nome de quem quer que seja... Eu, ao contrário do que senti com muitos outros seleccionadores, estou com Paulo Bento!

Abraço,
JC

É preciso pachorra!

Então agora é a "conjuntura"? É curioso que a conjuntura do Sporting nunca serviu de lenitivo para as críticas a Paulo Bento. E é curioso, também, como Scolari teve "duas boas conjunturas". Ou seja, ele não procurou nada, caiu-lhe tudo do céu. E essa do Ricardo Costa ter sido uma solução da conjuntura também está boa. Deve ter sido a conjuntura que também decidiu que Queiróz não levasse Moutinho ao Mundial mas já o deixou convocar mesmo antes de ter feito qualquer jogo pelo Porto.

E João Pereira? Não estava ele em muito melhor forma no Braga do que no Sporting? Pelo menos, essa realidade tem sido por si defendida... E Postiga? E Carlos Martins? E Meireles? E o facto do Pepe ter ido para o Mundial "a meio" de uma lesão também foi a conjuntura?

Não meu caro. O senhor mesmo dá a resposta quando fala em simplicidade. Quando o ego não é maior do que nós e não recorremos a soluções rebuscadas para nos afirmarmos todas as decisões são mais simples, práticas e eficazes.

Penso que poderia ter aproveitado a reflexão sobre "conjunturas" para meditar sobre o facto de ter sido uma boa conjuntura a permitiu reunir numa só equipa nomes como Figo, Rui Costa, João Pinto, Fernando Couto, To Zé, Bizarro, Valido, Jorge Couto, Hélio, Filipe, Folha, Amral, etc. Eu dou o benefício da dúvida a Queiróz neste caso. Será que o senhor consegue fazer o mesmo com Paulo Bento? Ou será que os que (des)une se chama Sporting?

Selecção Nacional leva-a...o Bento...

Esta é uma visão global da Selecção que nos obriga a reflectir sobre a diferença entre as conjunturas. São elas também que determinam o sucesso dos treinadores. E isso está bem patente quer neste artigo quer na realidade da Selecção Nacional.

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