Pinto da Costa por mais tempo? | Relvado

Pinto da Costa por mais tempo?

 

Será que Pinto da Costa avançará para o seu 12º mandato consecutivo? A idade ainda não pesará? E será que o FC Porto não tem mais ninguém, mais novo, para assumir a nau portista e continuar a levá-la a bom porto?Mas principalmente: qual será a vontade de Pinto da Costa?Chess

FC Porto:

Comentários [66]

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esperemos que sim

Penso que á a pessoa certa no local certo Homem que está de Parabéns por todo seu sucesso. http://sempre-porto.blogspot.com/

Gomes - Baía

Quando Pinto da Costa decidir retirar-se penso que esta seria uma boa dupla, Gomes como Presidente Baía como VICE... Mas algo me diz que Pinto da Costa vai-se recandidatar por uma ultima vez, seria bonito ser campeão europeu mais uma vez antes de se retirar, a verdade das verdades é que vai fazer falta quando o fizer... Cumps

Re: Gomes - Baía

Não inventem nomes para a sucessão porque ele já está encontrado, é nada mais que Luís Filipe Vieira. eheheheh. Agora a sério, olha que eu gostava de ver o Vitor Baia, Rui Costa e o Luís Figo, como Presidentes do Porto, Benfica e Sporting. Penso que era uma lufada de ar fresco que iria acontecer no futebol Português. P.S. E a juntar a estes o João Vieira Pinto no Boavista. Só com a presença da Marisa Cruz no Bessa, as receitas tinham um aumento perto dos 1000% e, o Abel Oxigenado no Estrela da Amadora (acabavam-se as dividas com o guito que vinha de Hollyhood). Mas era giro.

Re: Gomes - Baía

Amigo nao digas isso nem a brincar, ele está muito bem onde está... Mas sabes que eu acho que ser dirigente muda um bocado as pessoas, por exemplo Rui Costa como jogador era correcto raramente vias a mandar vir com os arbitros, agora está sempre a resmungar com eles mesmo nos jogos em que não tem razão, acho que a pressão de um dirigente ainda é maior do que a de um jogador... Mas essas figuras que falaste fazem bem falta ao nosso futebol, nem que fosse dentro dos relvados mais um ano, seria bonito ver os Pauletas, os Coutos, os Figos jogarem mais um ano no nosso campeonato antes de dizerem "ADEUS", infelizmente Couto retirou-se em silencio(um verdadeiro campeão dentro e fora de campo), Pauleta também já abandonou, Figo também já não deve pisar mais os nossos relvados, é pena... Cumps

Re: Gomes - Baía

Sabes que eu acho,que ele tem uma secreta esperânça de ser TRI Campeão Europeu e assim ficar na história do Futebol mundial. VIVA Pinto da Costa VIVA o FC Porto

Re: Gomes - Baía

Era bom que o Jesualdo nos calasse a todos e fosse já este ano o Tri... Dificil mas com o nosso clube não ha impossiveis... Cumps

Apesar de tudo o que fez...

esse senhor já não tem credebilidade para se manter na presidencia do FCP,mas esta é simplesmente a humilde opiniao de um sócio portista...

E a minha preferencia ficava com o Vitor Baia

Um portista como poucos...

Pinto da Costa

ainda tem 2anos para preparar a sua saida e consequentemente a entrada de alguém com carisma,mas acima de tudo que "respire" o F.C.Porto! Se decidir ficar,tem o meu apoio como os demais Portistas!

Eu gostava

de ver o Oliveira ou Rui Moreira... destes 2 nomes destaco o dinheiro do Oliveira e a minha preferência: Rui Moreira Gostava de ver este HOMEM no FCP como vimos o Pinto da Costa...

Re: Eu gostava

rui moreira como pinto da costa!!!!!!!!!!! quantos anos tens???????????'

I - O começo do Papa Mafiossi no Fcporto!!!

Ano de 1977, (Fcp Campeão na época de 77/78), ao tempo apenas chefe do departamento de futebol, começam as atoardas "não existe no Fcp, nenhum jogador a ganhar mais de 1000 contos anuais entre ordenados e luvas", isto a propósito da contratação de Jordão ao Saragoça e de Ailton que o Porto quis e ao qual o Sporting, triplicou o preço. «Eram os primeiros sinais do que haveria de ser..., a guerra psicológica com que haveria de destruir os "baluartes da supremacia Lisboeta"» ...F.c.porto campeão?, responde Pedroto "depende dos árbitros", na entreajuda Pinto da Costa atiraria "O critério de nomeações dos árbitros, se não é uma palhaçada, o que é que é?" Estava dado o mote e lançada a corrida para o título. Numa estratégia de "Guerra Fria", ou de divisão do País e de reinvenção de fantasmas, se preciso fosse... Mas as sementes, desta "guerra", já vinham de trás, lançadas pelo treinador Pedroto, num célebre jogo no Bonfim, um dos muitos finais de jogo de "sururu". O Porto venceu 1-0, golo de Cubillas, mas o intempestivo treinador Pedroto, dirigiu-se, em jeito de ferrabrás, a um dos fiscais de linha o que levou Diamantino (que depois veio a ser jogador do Slb), na tentativa de acalmar a altercação e com os nervos à flor da pele, ainda criou maior confusão, levando uma bofetada do Treinador Pedroto, os adeptos Sadinos montaram cerco à cabina Portista, deixando saír os jogadores sem problemas, mas Pedroto sabendo que o esperavam a ele, ficou retido na cabina, tendo saído muito tempo depois disfarçado de Polícia... Jadscl

Grande Timoneiro

Obrigado por tudo Presidente! Pinto da Costa será presidente do Futebol Clube do Porto,enquanto quiser.A Obra fala por ele. Para futuro presidente gostava de ver Fernando Gomes ,o grande e unico bi-Bota.

Re: Grande Timoneiro

Mao? E achas, enquanto for vivo, o PC deixe o Gomes ser presidente?

Re: Grande Timoneiro

Não tens acompanhado a vida "social" do FC Porto,pois não?

Re: Grande Timoneiro

Lá porque o Gomes aparece mais vezes com o PC não quer dizer que este o tenha perdoado!

Re: Grande Timoneiro

Mas perdoar porquê? o Fernando Gomes saiu do Porto por vontade do Artur Jorge. (E para o Curva: não é o ÚNICO bi-bota de ouro).

Português é. Ou o Eusébio também ganhou duas?

Agora estou na dúvida se o Eusébio também ganhou duas ou só uma. O Ronaldo ganhou este ano e pode naturalmente ganhar mais uma ou duas vezes. Acho que não me estou a esquecer de ninguém, ou estou? PS: O Jardas tb ganhou 2 vezes e ficou outras tantas em segundo mas não é Português.

Eusébio ganhou 2 vezes...

Re: Grande Timoneiro

«o grande e unico bi-Bota.» Diferente,não?

Zimbabwe

Hoje li num semanário que Mugabe não quer interferências externas no Zimbabwe, porque o país lhe pertence (!!?) Nem sei porquê, mas relacionei as duas personalidades.

O original já desapareceu este é o triplicado!!!

(ChegueiCagueiEFui-me, 1 ponto (Despropositado) , ontem às 22:05) ChegueiCagueiEFui-me, 0 pontos (Despropositado) , hoje às 17:46) Ao Bimbo Mafioso após a sua Morte façam-lhe as exéquias que fizeram ao Lenine, ponham-no num Mausoléu à entrada das Antas/Dragão, para assim o poderem continuar a endeusar. O homem que mais mal fez, ao Futebol desde a sua génese que são mais de 100 anos!!! Realmente o ganhar sem olhar a meios, tem muito seguidor... Jadscl

Re: O original já desapareceu este é o triplicado!!!

Andas chato como ó caraças.. Já agora vais ao jantar?

Um dia quiçá, marco no Tromba Rija, ali para os

lados Marrazenses, e a maralha encontra-se... Pouco subo, além do Mondego, só quando um dos filhotes tem de aí ir jogar ou em trabalho!!! P.S. O mais novo, joga amanhã com o Scp, aqui em Leiria. Jadscl

PC E AMIGOS - PARTE 7

Toda a gente sabia que Pinto da Costa vivia do futebol e essencialmente do seu clube, mas ninguém se arriscava a comentar o facto publicamente. Não se lhe conhecia mais nenhuma actividade e muito menos tinha fortuna pessoal, mas não obstante estes factos, vivia como um milionário. Comprava apartamentos de grande luxo para familiares e denunciava sinais exteriores de riqueza. A sua vida era um mistério que ninguém ousava desvendar. Numa reunião de direcção, Pinto da Costa colocou com toda a frontalidade o seu problema económico. Ele tinha consciência de que aquilo que impunha era aceite, e ninguém ousava comentar. Já passava das 22 horas, quando entrou pela sala de reuniões. À sua frente estendia-se uma mesa larga e comprida com os cantos arredondados. Á sua volta estavam sentados oito dirigentes discutindo entre si vários problemas de menor importância, mas quando sentiram a porta a abrir-se, viram Reinaldo Teles com o puxador na mão a dar passagem a PC, que entrou com um sorriso nos lábios, logo seguido do irmão de Reinaldo, cuja postura física e comportamento se assemelhavam aos de um gorila. Toda a gente se levantou para cumprimentar o presidente. Reinaldo tropeçou na alcatifa e, não fora a acção rápida de Ilídio Pinto, a segurá-lo pela gola do casaco, ter-se-ia enfiado por debaixo da mesa. PC largou um sorriso, e em tom de brincadeira comentou: - Reinaldo, estão a tirar-lhe o tapete? Toda a gente riu, mas Reinaldo é que não achou piada nenhuma. Todos se sentaram, e Pinto da Costa apresentou de imediato a sua proposta: - Meus senhores, aqui neste clube os vencimentos vão ser atribuídos conforme as responsabilidades. A pessoa mais responsável é sem dúvida o presidente. Concordam? Os presentes na reunião olharam-se entre si e, sem perceberem muito bem o que PC queria dizer, acabaram por concordar, muito embora se mostrassem hesitantes. Mas, ao aperceber-se da situação, Reinaldo fez da sua voz a de toda a gente: - Claro que ninguém tem dúvidas que a maior responsabilidade pertence ao presidente. Como ninguém se atreveu a contestar tal afirmação, PC, sem mais delongas, expôs a sua posição: - A partir de agora, o presidente vai ganhar sete mil contos por mês, o treinador seis mil e depois seguem-se os vencimentos dos jogadores, sem luvas e prémios, está claro. Os presentes estavam à espera de tudo, menos de uma situação como aquela, e dois «vices», sem soltarem uma única palavra, levantaram-se da mesa e saíram. PC não se preocupou com o facto, tinha-os na mão e sabia que ninguém tinha tomates para falar. Enfrentando os que ficaram, não deu hipótese a que ninguém mais recuasse: - Então, como este ponto está aprovado, passemos a outro! Ouvia-se a chuva que batia nos vidros. Reinaldo bem tentou dar vida à reunião, mas o seu vocabulário não lhe permitiu ir além de uns monossílabos completamente desenquadrados de toda aquela situação: - Bem...hum...hum...pois... A reunião, por motivos óbvios, acabou depressa. Um raid de comandos não seria mais fulminante. O suporte económico de PC estava a consolidar-se. Sabia-se da sua ligação camuflada à agência de viagens, da sua comparticipação nos lucros e actividade da Olivedesportos e ultimamente até tinha comprado um jornal, um elemento indispensável para dar a cobertura nacional necessária aos seus mais variados negócios. A corrupção era uma fonte de receita inesgotável e sem impostos. Mas como não assumia publicamente - nem o podia fazer - nenhum destes negócios, tinha sérias dificuldades em explicar de onde lhe vinha a fortuna. Não se preocupava muito com isso. Ele sabia que tinha várias espécies de argumentos para fazer calar quem ousasse pedir explicações. Era um homem com a resposta sempre na ponta de uma viperina língua. Tudo estava devidamente controlado e de nada adiantava aos clubes da capital lutar pelo poder dentro das estruturas do futebol. PC sabia, há muito, que a força do dinheiro combatia tudo, e as lutas regionais e clubistas superavam-se com facilidade, com sexo e com dinheiro. E nestas áreas estava tudo mais que garantido. Nos momentos decisivos de eleições federativas, era ele quem controlava todas as situações, tendo com referência a ajuda preciosa de Adriano Pinto, um estratego de alto nível e um exímio jogador de sueca. Adriano Pinto era homem para deixar o adversário sem vazas, mesmo quando este só tinha trunfos, passe o exagero. Adriano e PC escolhiam os lugares que mais garantias lhes davam para a continuidade dos seus vários negócios, mas, como não podiam escolher todos os lugares, autorizavam mesmo que alguns mais importantes caíssem nas mãos de dirigentes ligados aos seus mais directos rivais. Não seriam necessários mais de dois meses após o acto eleitoral federativo para que se tornasse claro que os dirigentes indicados pelos clubes da capital já estavam do lado de PC. Mestres na arte da corrupção, proporcionavam vidas faustosas aos dirigentes inimigos(?), e a clubite era de imediato esquecida. Era normal ver-se um presidente federativo ao lado do clube de Pinto da Costa, quando este tinha de enfrentar algumas dificuldades e, sabendo-se que esse dirigente se afirmava de determinado clube da capital, nunca ninguém se espantou por ele nunca aparecer ao lado do clube das suas cores para o defender. Pelo contrário, até surgiu um presidente lisboeta que se tornou mais nortenho que um galego! Os pontos-chave estavam todos controlados, para que a manobra fosse absoluta. Exageraram, no entanto, em algumas situações. A sede do poder subiu à cabeça de Pinto da Costa, e os ataques ao Governo fizeram-se sentir com grande intensidade quando verificou que no campo político não era possível ter tanta cobertura como no futebol. A Procuradoria-Geral da República colocou a Polícia Judiciária em campo, e a acção contra a corrupção no futebol desenvolveu-se de uma forma intensa. Durante vários meses, Reinaldo Teles e Jorge Gomes foram vigiados de perto, e os seus telefones ficaram sob escuta. Passado um mês, os agentes encarregados desta função já não tinham qualquer dúvida em relação à corrupção e aos negócios de Reinaldo Teles, mas as investigações continuaram. Os agentes testemunharam vários encontros de árbitros com Reinaldo e Jorge Gomes. Ouviram várias conversas em código, mas que entendiam perfeitamente. A rede estava bem montada e tudo indicava que, mais tarde ou mais cedo, Reinaldo e os seus pares iriam cair nas várias armadilhas que lhes estavam a ser montadas. Pinto da Costa estava fora dessa investigação. Não era fácil atacar-se um homem com o seu poder. A polícia tinha de atacar por baixo para chegar lá acima, mas juridicamente o grupo estava bem organizado e bem escorado. Jogavam, de uma forma invulgar, com carências que a Lei apresentava no combate à corrupção. Seria fácil para a polícia chegar à conta bancária de qualquer um deles e pedir justificações para o movimento semanal de verbas tão volumosas. Mas tal não era possível. Os agentes encarregados da investigação viviam desesperados por não poderem provar aquilo que viam com os seus próprios olhos. Por isso, atrasaram as investigações, esperando uma melhor oportunidade que nunca surgia. Eles sabiam que, no momento que pedissem contas ou justificações, bastava um deles negar-se a fazê-lo para que o processo não avançasse. Eles sabiam, também, que quem tinha que provar que o dinheiro nas suas contas bancárias era ilegal era a polícia e não os acusados. Estavam de mãos atadas. Os agentes destacados para a investigação conheciam o terreno que pisavam e não estavam nada optimistas em relação às provas que poderiam vir a encontrar. Isto apesar de terem assistido a vários encontros e conversas que indiciavam a existência de actos corruptos. Um dia, resolveram seguir Reinaldo Teles e acabaram num bar de alternos perto do Marquês. No seu interior estavam dirigentes de um clube, em amena cavaqueira, e que tinham lá ido para se encontrar com um árbitro que lhes ia apitar o jogo da próxima jornada. O espectáculo estava a começar, e no meio da pista exibia-se um travesti com farta cabeleira longa encaracolada e um vestido coberto de lantejoulas vermelhas que lhe descia pelas pernas até ao tornozelo, abrindo uma enorme racha que se prolongava pela coxa esquerda. Cantava em play-back uma canção de Maria Betânia. O árbitro, sentado numa mesa próxima da pista, coçava a sua careca, enquanto alisava os poucos cabelos que lhe sobravam e que lhe cobriam apenas as têmporas. Levou o copo de whisky aos lábios e pousou-o quase de imediato para aplaudir a actuação do travesti. Quando lançou um olhar sobre a entrada viu surgir Reinaldo Teles. Uma das putas levantou-se com ligeireza e foi cumprimentá-lo, enquanto as outras a olhavam com inveja e diziam: - Se a Luísa sabe desta merda, vem aí e dá-lhe uma tareia que a fode. Reinaldo, sem perder o seu habitual fair-play, afastou a mulher e, quando ela se virou, mostrando um cu arrebitado e comprimido numas calças de licra, não resistiu a dar-lhe uma palmada, enquanto lhe dizia: - Tens o melhor cu da Europa. O árbitro assistiu a toda a cena e cumprimentou Reinaldo com um ligeiro aceno de cabeça. Os dirigentes ganharam coragem, levantaram-se e foram falar com o árbitro, que os conhecia e já esperava a investida. Após os cumprimentos tradicionais, o árbitro esperou pelo primeiro ataque, e logo que lhe referiram o jogo de domingo disse apenas: - Não percam tempo. Esses negócios não são tratados comigo. Se querem alguma coisa, falem com Reinaldo Teles. Ele chegou agora, falem com ele. Os agentes da PJ nem queriam acreditar no que ouviam. Estavam perto e escutaram a conversa. Esperaram pela reacção dos dirigentes, e estes, sem perderem tempo, pediram licença para se sentar na mesa de Reinaldo. Só ouviram Reinaldo dizer: - Apareçam amanhã para falarmos desse caso. Tinham voltado à estaca zero, quando julgavam que estava em perspectiva a flagrante que tanto desejavam. Era difícil arranjarem-se provas para deter Reinaldo e Jorge Gomes. Eles rodeavam-se de cuidados dignos de grandes profissionais. O inspector que comandava a operação chegou a dizer: - Isto não vai ser fácil. Ou temos a sorte de os apanhar em flagrante, o que é tremendamente difícil, ou então temos de utilizar a táctica de Al Capone. - A táctica de Al Capone? - perguntou um dos agentes, sem entender muito bem o que o seu chefe queria dizer. - Eu explico. Toda a gente sabia que Al Capone era um gangster de primeira categoria. Matava, corrompia e só tinha negócios ilícitos, mas como ninguém podia provar nada, muitas vezes até passou por bom rapaz, negando descaradamente os seus crimes. Temos neste caso o exemplo disso mesmo. Todos temos a certeza que Pinto da Costa e Reinaldo Teles estão envolvidos em casos de corrupção, mas como ninguém pode provar nada, quando alguém os acusa, ainda corre o risco de se transformar num difamador. Ao Al Capone meteram-no na cadeia por fuga aos impostos, e a estes só lhes podemos pegar pelo mesmo motivo, muito embora o sistema fiscal do nosso país não nos dê muita margem de manobra para isso. Doutra forma, só mesmo se um dos árbitros corruptos falar, e isso não é muito provável. A corrupção atingia quase todos os sectores do futebol, e não havia dúvidas de que existia uma organização perfeita por trás de toda esta situação. Os mais altos dirigentes federativos recebiam luvas da Olivedesportos para ultrapassar regulamentos, dar exclusivos sem concursos públicos ou marcar jogos seguindo as conveniências horárias da televisão. A PJ seguiu alguns desses dirigentes e verificou que estes no final de cada mês passavam pelos escritórios da Olivedesportos e nunca ninguém acreditou que eles fossem apenas cumprimentar ou desejar um bom final de mês a Joaquim Oliveira. Mas, apesar de toda esta evidência, de que algo de anormal se passava, e não haver dúvidas de que existia corrupção, não se conseguia prender ninguém. Quando existia mesmo a possibilidade de se poderem arranjar provas de um crime, elas eram imediatamente abafadas, sem ninguém saber como. Mas um jogador que foi contactado por Jorge Gomes para facilitar um resultado fez questão de dar com a língua nos dentes e transformou o seu caso num escândalo nacional. Prometeu contar toda a verdade. Porém os casos caíam sempre na mão de quem sabia como lhes dar destino. Numa primeira abordagem, esse jogador teve medo de contar toda a verdade. Foram apontadas testemunhas para esse caso que poderiam ser o início da derrocada da organização, mas mais ninguém foi ouvido sobre essa questão. O processo desapareceu como o fumo, levando o caminho de tantos outros: arquivado por falta de provas. É que, quando elas existiam ou se perspectivava o testemunho dos factos, surgia logo uma misteriosa corrente no sentido de fazer as coisas caírem no esquecimento. O império resistiu ao movimento das catacumbas. A televisão gastava milhões em transmissões televisivas. O responsável por essas negociações comprou a dinheiro, misteriosamente, uma casa no valor de 50 mil contos. Todos sabiam que meses antes ele não tinha possibilidades de efectuar tal negócio. Era mais que evidente que estava a receber luvas da Olivedesportos, mas ninguém lhe pediu contas. O descaramento era tal neste tipo de negócios, e a cobertura de tal forma forte, que a Olivedesportos, uma empresa instalada num modesto T1, com dois empregados e uma mulher de limpeza, fazia frente e vencia as estações de televisão mais fortes em estruturas e com grande peso político e religioso. Fomentaram-se guerras, desmascaram-se situações, mas a organização tinha tal poder que nem sequer foi minimamente abalada. Ninguém compreendia aquele fenómeno. Um escudo invisível parecia proteger a coutada de PC. Por trás das outras empresas, havia gente com grande peso político, ex-ministros e até ex- primeiros-ministros, mas estas empresas esbarravam sempre no gnomo Joaquim Oliveira, o tal que meia dúzia de anos antes era apenas o proprietário de um bar de alternos com putas ranhosas e que até as cuecas tinha penhoradas. A televisão era um enorme fonte de receita. O segredo do negócio não residia, como se tentava fazer crer, na negociação da exclusividade das transmissões, mas no sistema camuflado de publicidade estática. Tudo isto formava uma teia bem tecida e organizada. Por seu lado, o irmão de Oliveira, quando deixou de jogar futebol, dedicou-se à actividade de treinador, mas apesar de todas as ligações comerciais com PC, nunca se deixou envolver pelo sistema. Treinou sempre clubes de pequena nomeada, e era evidente a sua grande capacidade de comando e leitura de jogo. António Oliveira era inteligente e conhecia como ninguém o futebol por dentro, mas nunca foi um grande amante do trabalho. Treinar um clube e ter de se levantar todos os dias de manhã para exercer essa actividade, ou radicar-se numa cidade pequena para poder laborar, nunca esteve nos seus horizontes, e daí o seu êxito não ter tido uma dimensão à altura do seu talento. A solução para o seu problema estava na selecção. Trabalhava de três em três meses, e como capacidade e talento eram coisas que não lhe faltavam, este era um emprego à sua medida. Pinto da Costa controlava todas estas áreas, e não havia dúvidas de que era ele quem mandava no futebol. A Polícia incomodava toda a gente, procedia a investigações, fazia buscas residenciais a várias personalidades, que toda a gente sabia serem satélites de PC, mas nele ninguém tocava. PC, surgia sempre acima de toda a suspeita e com uma porta aberta para sair em defesa dos seus protegidos e dar-lhes a cobertura necessária. O Grande Líder tinha consciência daquilo que valia e do poder que tinha. Sabia que os mais altos dirigentes políticos lhe vinham mendigar apoio nos momentos cruciais. O escândalo não o afectava; a contínua suspeita que caía sobre ele e os seus sócios não tinha grandes efeitos sociais, como se toda a gente aceitasse pacificamente que o futebol era um antro de negócios marginais. O certo é que, apesar de todos os hinos cantados à inocência, quando surgia uma suspeita de corrupção ligada ao futebol, a direcção era sempre a mesma e atingia sempre as mesmas pessoas. Ninguém podia pensar numa perseguição injusta, como fazia crer, porque isso seria até um insulto a Pinto da Costa e à sua reconhecida capacidade de gestão de problemas. - Eles que venham comer o milho à minha mão - sussurrava PC, enquanto abria mais uma edição do «Independente», de novo com a sua foto na capa.

PC E AMIGOS - PARTE 6

Apesar de falhas bem visíveis na organização, Reinaldo Teles continuava a usufruir de uma excelente reputação no negócio das arbitragens. A máquina estava bem montada, e os perdedores eram levados a acreditar que era praticamente impossível controlar todas as situações de forma a garantirem a vitória. Reinaldo defendia-se afirmando que, se o processo não fosse falível, acertava todas as semanas no totobola. As pessoas conheciam os pormenores da organização e sabiam que o risco de erro era mínimo, mas existia... Reinaldo Teles controlava várias áreas adjacentes ao mundo do futebol e sempre era melhor estar de bem com ele do que tentar lutar contra a sua estrutura. O negócio de corrupção já há muito tinha ultrapassado a arbitragem, encontrando-se instalado noutros sectores. Por vezes, controlar o árbitro não chegava e também era verdade que, nem todos os árbitros se deixavam enredar na teia bem urdida por Reinaldo e Jorge Gomes e, por isso, tornava-se necessário alargar o campo de acção a outros sectores e a alguns jogadores que, na ânsia de arranjar melhores contratos, alinhavam em favores extra. Valia tudo para se servir o melhor possível o cliente. Reinaldo e Jorge Gomes tornaram-se especialistas na tramóia. Tinham toda a cobertura possível do clube que representavam. Aos poucos, os dirigentes dos outros clubes ficavam dependentes da sua acção e dos seus serviços. No início de cada época, era elaborada uma lista de jogadores a emprestar pelo clube de Reinaldo, e os primeiros a ter acesso a essa lista eram aqueles que se comprometiam a ser os melhores clientes, depositando milhares de contos nos cofres da organização. Destes dividendos, o clube não via nem um tostão, e por isso é que alguns dirigentes com maior estatura moral, ao aperceberem-se que alguns parasitas viviam à conta do seu clube, abandonavam as suas posições, não deixando de comentar: - Isto é impossível. Um clube com tanta dignidade vive rodeado de chulos. É quem mais se orienta. - É preciso ser-se maluco para depender exclusivamente de um pé-descalço e de um mentecapto. - O melhor é sair do barco, senão ainda vamos ao fundo com ele e se isso acontecer já ninguém nos arrancará do lodo... Até o Ilídio, que já tinha investido milhares de contos no clube do seu coração, deixou de acreditar que, algum dia, poderia vir a ser «vice» do futebol profissional e deixou de contribuir quando era chamado a apagar alguns fogos de ordem económica. E gabava-se disso, sem tentar esconder a sua posição: - Deixei de ser burro. Era o que faltava, andar aqui a ganhar honestamente o meu dinheiro para sustentar estes chulos. Se falta dinheiro, que o ponha lá quem o ganha à custa do clube. Se derem 10 por cento do que ganham à nossa custa, já podem acudir a alguns fogos. Sempre é melhor deixarem o dinheiro no clube que os sustenta que deixá-lo no casino. Ilídio sabia que tinha peso entre os adeptos, pelo menos desde o dia em que resolveu pedir a sua demissão de dirigente e, ao contrário de que aconteceu a outros, Pinto da Costa se apressara a fazer com que ele regressasse. Gostava de ser campeão todos os anos, mas não apoiava os processos utilizados por Reinaldo e muito menos, ao contrário de outros, deixava que a sua mulher se misturasse com a Luísa nas viagens ao estrangeiro. Reinaldo Teles ganhava apoiantes entre aqueles que comiam algumas migalhas do seu bolo. Como era conveniente, controlava alguns delegados técnicos, montando um sistema de protecção aos árbitros que com ele colaboravam. Servia-se do seu clube para se insinuar perante os membros do Conselho de Arbitragem, deixando no ar promessas que raramente eram cumpridas. A chantagem era o trunfo mais utilizado na intimidação das pessoas que se deixavam levar por alguns processos menos claros e que, depois de entenderem que pouco ganhavam com isso, manifestavam a intenção de sair da organização. Esses processos, na maior parte das vezes, eram utilizados contra jogadores que se deixavam corromper e que, depois de se sentirem enganados com falsas promessas, se recusavam a aceitar um segundo negócio. Também havia aqueles que, não querendo alinhar no sistema de corrupção, quando contactados, se recusavam a tal. Esses eram constantemente ameaçados e só com muita dificuldade arranjavam novos clubes depois de terminarem os seus contratos. Era a política do medo que se exercia sobre jogadores e dirigentes. Quem contrariasse Reinaldo, sentia que estava a contrariar PC, e o resultado era quase sempre funesto. As pessoas sentiam que lhes estavam a sonegar dinheiro, mas não tinham coragem para se impor. Sabiam por experiência que não era muito saudável alguém voltar-se contra quem manda no futebol. A arrogância com que a dupla PC-Reinaldo actuava e a ditadura que impunham provocava até situações ridículas, mas nada era feito ao acaso. Um dos exemplos disso estava num dos anúncios transmitidos semanalmente pelo Totobola. Nesse anúncio surgiam golos de várias equipas, e como o clube de PC tinha sido esquecido, o próprio presidente contactou a Santa Casa e fez saber que, se não incluíssem num desses anúncios um golo do seu clube, ele mesmo faria uma campanha anti-Totobola. A chantagem valia para tudo, mas PC era também mestre na simpatia, e quando lhe convinha atingir determinado objectivo, se fosse necessário, tornava-se até subserviente. PC e Reinaldo tinham personalidade muito idênticas que se dividiam entre o anjo e o demónio, e por isso é que se entendiam bastante bem e existia uma confiança sem limites entre ambos. PC era o mentor, e Reinaldo o executor. Jorge Gomes queria imitá-los, mas as suas limitações não lhe permitiam longos percursos nessa área. Explodia com muita facilidade e, como não tinha a noção do ridículo, deixava cair a máscara e denunciava a sua real personalidade. Também era verdade que lhe cabia assumir os papéis de maior desgaste. A organização era superiormente constituída e soberbamente organizada. Escolhia os árbitros de personalidade mais frágil para patrocinarem os escândalos nos jogos onde era necessário vencer a qualquer preço e, depois de utilizados, quando já não possuíam qualquer tipo de credibilidade, esses mesmos árbitros eram abandonados e abatidos ao efectivo. Alguns treinadores também se deixaram possuir pela vida fácil de arranjar emprego, entregando toda a sua carreira à responsabilidade de Reinaldo Teles. Ele é que os colocava, mas sempre com o objectivo de conseguir novos clientes. Muitos deles sujeitavam-se ao desemprego durante meses a fio, para esperarem a oportunidade e a ordem dada por Reinaldo. Quando surgia um elemento endinheirado à cabeça de um clube, Reinaldo não perdia tempo. A carreira desse clube começava a sofrer oscilações, até que o presidente era aconselhado, através de um sinal subtil de boa vontade, a mudar de treinador. O acaso proporcionava encontros programados à distância com elementos ao serviço de Reinaldo: - Com esse treinador não vai a lado nenhum. Arranje outro enquanto é tempo. - Não é assim tão fácil como isso. Não há por aí treinadores aos pontapés, e também é necessário pagar-lhes - reagia o presidente, em situação de desespero. - Ó homem, fale com o Reinaldo que ele arranja-lhe um gajo com capacidade. Ele é que controla isto tudo. Estou a ser seu amigo, não ganho nada com isso! Muitos desses presidentes não agiam de imediato, mas, como os bons resultados teimavam em não aparecer, acabavam por seguir o bom conselho daquele amigo tão providencial. Caíam que nem patinhos na teia que lhes tinha sido estendida. Depois de contactado, Reinaldo colocava a máscara do amigo, do proteccionista que age sem qualquer tipo de interesse. Um autêntico bom samaritano. - Vou arranjar-lhe um treinador de cinco estrelas. Não se preocupe que a partir de agora vai correr tudo muito melhor - garantia aos presidentes mais conhecidos, nos intervalos de algumas beijocas e outras tantas mamadas de algumas especialistas pagas a peso de ouro. Uma semana depois de o novo técnico estar ao serviço desse clube, surgia o conselho tão desejado para os presidentes mais inexperientes: - Tem de começar a aparecer no bar do Reinaldo mais vezes. Ele é um gajo porreiro. E lá é que se resolvem todas as situações. Tentando rentabilizar o investimento que já tinha feito, o «homem» era recebido como um marajá. Luísa encarregava-se de lhe colocar na mesa um ou duas das suas melhores mulheres. Reinaldo dava ordem para que o serviço de bebidas não falhasse e, para não dar nas vistas, naquele primeiro dia a conta era arredondada para baixo e elevados os carinhos proporcionados pelas raparigas. O dirigente saía satisfeito, e até comentava com os seus colegas: - O Reinaldo é um gajo porreiro. Meteu-me duas mulas na mesa boas como milho, e no final a conta foi uma merdita. O pior acontecia nas visitas seguintes. Iludido com tamanha amizade, o dirigente tornava-se cliente assíduo e, para não parecer mal andar no putedo, sempre tinha a desculpa de que ia tratar de negócios com Reinaldo. Este, por seu lado, só tinha de esperar até que a vítima ficasse definitivamente presa. As bebedeiras sucediam-se, e alguns chegavam até a mijar-se pelas pernas abaixo para descontentamento das mulheres que os tinham de aturar, mas Reinaldo não tinha contemplações quando alguma das suas empregadas se queixavam que já não aguentavam mais micções ou vomitados daqueles pacóvios que estavam ligados ao futebol. - Coitados, nunca saíram de casa e agora bebem dois copos e cagam-se todos. Reinaldo Teles não gostava desse tipo de comentários e cortava-os pela base: - Se não queres trabalhar, fala ali com a Luísa que ela faz-te as contas e vais com a Nossa Senhora. As putas bem se lamentavam, porque com os dirigentes do futebol as suas comissões diminuíam, pelo menos nos primeiros tempos, dado que a intenção não era esmifrá-los, como faziam aos outros clientes, mas cativá-los para operações bem mais proveitosas para o... patrão. - Estás a mangar? O que ele quer é embebedar os perus... - Não tenho pena deles. Tenho mais pena de mim. Ando aqui a dar tudo o que tenho, e o que ganho com esses pavões nem dá para a cabeleireira. - Tem paciência, Vaninha. Pode ser que ainda venhas a casar com um jornalista desportivo, como eu... As putas já estavam resignadas. Chegada a hora de o abutre picar sobre a carcaça, Reinaldo começava a gerir a situação, dando toda a cobertura ao clube cujo treinador lá tinha colocado. As tabelas eram feitas mediante os escalões em que os clubes militavam e, como normalmente as coisas melhoravam de imediato, toda a gente se sentia satisfeita. O presidente tornava-se um bom cliente, diminuindo o orçamento para a contratação de jogadores e aumentando a verba de despesas confidenciais que iam direitinhas para os bolsos de Reinaldo. A qualidade do futebol decrescia também, porque já não era necessário investir-se em bons profissionais, mas sim nas habilidades e manobras de bastidores. Os dirigentes não escondiam essa situação: - Que importa ter bons jogadores se não ganhamos?!... À parte tudo isto, os treinadores colocados por Reinaldo também alinhavam em várias jogadas, principalmente nos finais de campeonato. Quando não estava em causa o resultado para uma das equipas cujo treinador fazia parte da carteira de Reinaldo, era fácil pedir-se-lhe a derrota para beneficiar um outro cliente. Todos ganhavam dinheiro com isso. O sector do futebol júnior também foi transformado num grande negócio através do empréstimo de jogadores e, por isso, logo cobiçado pelos familiares de Reinaldo. Os clubes que eram beneficiados com esses empréstimos, para além de usufruírem de imediato de proteccionismo relativamente às arbitragens e de terem de pagar magros vencimentos aos atletas, tinham de passar cheques cujas verbas iam até aos 5 mil contos sempre em nome de Reinaldo Teles e nunca em nome da colectividade. O clube que se tornou melhor cliente de Reinaldo andava já há algumas épocas a tentar a subida à 1ª Divisão e já tinham investido muitos milhares a partir do bar gerido pela Luísa. Mas depois de ver frustradas as suas acções e de ter gasto muito dinheiro, um dos seus dirigentes resolveu ter uma conversa com Reinaldo Teles e, sem preâmbulos, foi direito ao assunto: - Já andamos há algumas épocas a investir e ainda não conseguimos nada. Desta vez tem de ser. Digam lá quanto é que é necessário para subirmos de divisão. Reinaldo Teles afagou o bigode, pensou, e só depois disse num murmúrio de grande cumplicidade: - Se vocês querem mesmo subir, vamos ter de apostar forte. - E essa força quanto nos custa. - Não é esta a altura para vos dar uma resposta. Vamos estudar o problema e depois falamos. Reinaldo Teles teve então uma conversa com Pinto da Costa, colocou-lhe o problema, e este não esteve com meias medidas: - Se eles querem subir, vão ter de pagar bem por isso. Naquela zona há muito dinheiro. Anda tudo bem calçado. Estabelece uma verba de 250 mil contos e divide isso em quatro ou cinco tranches. - Mas, presidente, isso não é muito dinheiro? - Não, não é, atira com essa verba e se eles não forem na fita baixa um pouco a fasquia, mas não muito. Reinaldo e Jorge Gomes marcaram encontro com os interessados e, após uma curta discussão, ficou acordado que essa verba seria de 200 mil contos divididos em quatro tranches de 50 mil contos. O certo é que, após vários escândalos - jogos houve nos quais foram marcadas três grandes penalidades... - , esse clube acabou por subir ao grande palco do nosso futebol, e ninguém fez menção de fazer segredo de que os grandes responsáveis por essa subida foram Reinaldo e PC. Aqui o segredo nem sequer era a alma do negócio, muito pelo contrário, era necessário que toda a gente soubesse para incentivar novos clientes. Uma autêntica operação de marketing. - Reinaldo, isto é muito melhor que jogar na roleta! - atirava PC, enquanto se deliciava com mais um extracto bancário. - Sem dúvida, presidente, mas agora que falou nela, já me está a dar um formigueiro nas mãos. - Oh, não!...

PC E AMIGOS - PARTE 5

Reinaldo Teles trabalhava no mundo da arbitragem com um certo à vontade. Comprava e vendia com a maior das facilidades. Sentia-se seguro e acabava por cometer erros que, acumulados, se iam tornando perigosos, não obstante usufruir de uma grande cobertura judicial, desportiva e política, situações que eram consubstanciadas através de favores concedidos em todas estas áreas, tendo como referência o poder do seu clube. A bandeira do Norte era içada defendendo um regionalismo recheado de hipocrisia. Esta era a forma de arregimentar a força do povo nortenho quando era necessário sair em defesa de interesses meramente pessoais. Pois se os títulos e os golos eram importantes para os fervorosos adeptos do seu clube, eram muito mais para eles, porque era essa força que servia de suporte aos negócios marginais. Pinto da Costa tinha consciência de que no futebol eram autorizados, por parte dos adeptos, alguns jogos obscuros de bastidores. A vitória era importante e combatia-se dentro e fora dos relvados. Alguns adeptos até denunciavam um certo gosto pela habilidade nata com que alguns dos seus dirigentes se movimentavam nos bastidores, mas também se sabia que nenhum deles aprovava que se retirassem benefícios em proveito próprio e muito menos utilizando o seu clube para isso. Mas como o clube ia ganhando... Começaram a surgir algumas denúncias, e uma maior cautela era a medida a tomar com uma certa urgência. Andar a negociar árbitros a retalho era perigoso de mais. Os movimentos multiplicavam-se, e os riscos aumentavam. Alguns jornalistas não se deixaram dominar pelo medo e acabaram por sofrer emboscadas, sendo presenteados com alguns socos como medida de intimidação. Reinaldo Teles foi avisado e não parava de pensar como é que o negócio teria de ser conduzido para se acabarem com alguns boatos que começavam a tornar-se perigosos. Nem sequer equacionava poder vir a acabar com um comércio tão rentável. Tinha de encontrar uma solução mais eficaz e menos notada. Já se habituara a ganhar algumas centenas de contos semanalmente, e o seu vício pelo jogo no casino requeria grandes proventos. A ideia acabou por surgir através de um dirigente de outro clube que se tornara um grande cliente e que começou a entender a complexidade do negócio e a dificuldade em acudir a todos os pedidos. - Porque é que vocês não se dedicam a um ou dois clubes em vez de andarem a acudir a todos os fogo? Façam contas e vão verificar que o negócio se torna mais rentável, é mais seguro e não gera tantas confusões. Reinaldo Teles ouviu com atenção a observação, e, como dizia, a sua mioleira acendeu-se como um cockpit no momento da aterragem. Para arrefecer as ideias, pediu ao seu empregado que lhe trouxesse mais um whisky. - Mas com muito gelo. Saboreou durante largos minutos a sua bebida, elaborando mentalmente um novo plano de ataque. Olhou à sua volta e, ao verificar que uma das suas prostitutas se despedia de um cliente depois de lhe ter sacado duas garrafas de champanhe, fez-lhe um sinal e chamou-a. Ela olhou admirada e colocando o dedo indicador no meio do peito nu, bem dentro de um decote que ameaçava fazer-lhe saltar as mamas a qualquer momento, interrogou-se, encolhendo os seus lábios vermelhos e carnudos: - Eu?! Reinaldo passou a mão pelo rosto, fez rodar o copo entre os dedos para agitar o gelo e acenou com a cabeça, confirmando o chamamento. Rebolando a anca, atravessou a pista de dança e dirigiu-se a Reinaldo. - Senta aí. - Mas que luxo! Ser convidada para a mesa do patrão! - Cala-te e ouve. O Jorge Gomes dormiu contigo esta noite? - Já sabe que sim. Ou ainda não lhe disseram que ando com ele? - Sei muito bem que andas com ele, e quero é saber onde o posso encontrar agora... neste momento. - Como ainda é cedo, deve ter passado por casa. Mas ele disse-me que vinha cá hoje. - A que horas? - Ai, isso não sei! Mas deve estar a chegar. - Se por acaso estiver ocupado na altura em que ele chegar, diz-lhe que eu quero falar com ele com urgência. - OK! É só isso? - disse a empregada antes de se retirar, ao mesmo tempo que puxava as mamas para cima e deitava o olho a um novo cliente. Reinaldo Teles dirigiu-se para o balcão onde estava a sua mulher a chamar a atenção de uma das suas empregadas. - Estás aqui para trabalhar e não para namorar. Estiveste na mesa daquele gajo e nem um copo lhe sacaste. Reinaldo Teles ia a pedir um pouco de calma à sua Luísa, quando viu Jorge Gomes a entregar a sua gabardina ao porteiro. Fez-lhe logo sinal com a mão e, após uma breve troca de olhares, dirigiram-se para uma mesa mais recuada e sem barulho de música. Reinaldo apresentou-lhe a sua ideia para se avançar com uma nova forma de negócio. Ao fim de alguns minutos, estava tudo resolvido. Iam trabalhar com três ou quatro clubes de divisões inferiores e com um ou dois de primeira categoria, prometendo-lhes a manutenção. Desta forma, a acção não colidia com os interesses do seu clube muito pelo contrário: podia até sair beneficiada. Reinaldo estava tão entusiasmado com o negócio, que deixou Jorge Gomes embasbacado quando lhe disse: - Isto não tem nada que saber. Vamos deixar de trabalhar jogo a jogo. Para correr tudo bem, necessitamos de tempo e organização. O clube que quiser subir contacta-nos com tempo, fazemos o preço e temos todo o campeonato para tratar do assunto. Desta forma, podemos jogar com algumas falhas e colmatá-las com outras jogadas e outros intervenientes. Jorge Gomes ouviu com atenção, mas ficou desconfiado, pois não lhe passava pela cabeça vir a perder dinheiro. Além do mais, ficava sem campo de acção para algumas das suas jogadas em que prometia levar o dinheiro a alguns árbitros e nem sequer os contactava. Mas Reinaldo descansou-o. - O teu papel continua a ser o mesmo. Nós temos de trabalhar todas as semanas, temos de fazer os nossos contactos, só que desta forma a massa vem dos clubes antecipadamente. No início do campeonato estabelecemos um preço de subida e, como em negócios destes não há crédito, eles dão-nos o dinheirinho adiantado e nós é que gerimos a situação. - E já tens algum cliente? Estamos a mais de meio do campeonato, e até ele acabar não vamos ganhar mais nenhum? - perguntou Jorge Gomes, preocupado e ainda confundido com esta nova situação. Mas Reinaldo não perdeu tempo, expondo-lhe novos pormenores do negócio: - Estamos em Março, e é a partir de agora que começam as grandes confusões. Estive a falar com o presidente de um clube que está à rasca. Não quer descer e, como dinheiro é coisa que não lhe falta, vamos arrancar com esse negócio. Amanhã vais falar com ele, apalpas a situação e, se o vires interessado, combina com ele um encontro aqui no bar, que depois eu faço o resto. Trata disso sem falta amanhã, que eu agora vou até ao casino aumentar a minha fortuna. - Já vais foder o dinheiro todo nessa merda. Assim, não há negócio que resista - lamentou-se o Jorge. Na tarde seguinte, Jorge Gomes fez o seu contacto; falou com o presidente do tal clube que não queria descer e, vendo que este se mostrou interessado no negócio, marcou encontro para essa noite. Reinaldo Teles escolheu duas das suas melhores mulheres, avisou Luísa de que naquela noite iria aparecer um bom cliente e deu instruções para que nada faltasse, porque estava em perspectiva um bom negócio. Quando ia a sair, disse a Luísa para ela falar com as duas empregadas, avisando-as de que, se fosse necessário, elas sairíam com esse cliente. - É que ele gosta de ter mais que uma mulher na cama, e é bom que ele saia daqui satisfeito. Nessa noite, Reinaldo Teles chegou atrasado ao bar, mas fê-lo de propósito, para que as suas duas empregadas tivessem tempo de levar o cliente ao ponto que ele queria. Quando fez a sua entrada, a situação já estava a ser controlada por Jorge Gomes. - Ele está no ponto de rebuçado. - É assim mesmo que eu o quero. Após estas palavras, Reinaldo dirigiu-se para a mesa do seu convidado e disse, com um ar de não total inocência: - O presidente está bem acompanhado! Ambos trocaram um sorriso e compreenderam que tinha chegado a altura de ficarem sozinhos para tratar de negócios. As duas mulheres, após um ligeiro sinal, levantaram-se da mesa sob o argumento de que tinham de ir à casa de banho recompor a maquilhagem, mas prometendo voltar logo que se acendesse a luz verde... Reinaldo Teles começou a falar da situação aflitiva em que estava o clube do seu interlocutor, passando de imediato àquilo que mais interessava e que tinha proporcionado aquele encontro. - Estive ontem a pensar na vossa situação e cheguei à conclusão de que, se não houver um trabalho a sério, vocês vão direitinhos. - Nós também temos consciência disso. - Ainda ontem um presidente veio ter aqui comigo para ver se eu o ajudava a sair de uma situação como a vossa, mas eu não lhe disse nada até falar consigo. Se vocês quiserem, prefiro ajudar o vosso clube. Sempre é da nossa associação (Porto). - Claro que queremos, mas também não temos muito dinheiro para gastar. - Estive a fazer contas e penso que, com 50 mil contos, podemos controlar a situação até ao final do campeonato. Mas, atenção, que este dinheiro também é para ser investido no campo do adversário. - Com 50 mil contos, vocês garantem-nos a manutenção? - Quase a 100 por cento. - Quase? - Sim, quase, porque a bola, que eu saiba, continua a ser redonda... - E como é que vamos pagar esse dinheiro? - Em três tranches. Dez mil agora e mais duas de vinte mil quando virmos que é necessário o investimento. - Está combinado. O Jorge Gomes pode passar lá amanhã pelo meu escritório e já traz o cheque dos 10 mil. Estava em curso uma nova forma de negociar, e pelos vistos mais segura, para além das vantagens que isso trazia. Com aqueles 50 mil contos podia fazer-se muita coisa, uma das quais era tentar atrasar os mais directos adversários do clube de Reinaldo Teles. Quando estes fossem jogar com o clube que tinha pago os 50 mil contos, investia-se nessa situação. Com um tiro matava dois coelhos: o seu clube adiantava-se em termos de pontos, e o seu cliente ficava bem servido. Só que o egoísmo levou-os a cometer novos erros. O dinheiro era fácil e gastava-se ainda mais facilmente. Reinaldo pedia cada vez mais e investia cada vez menos. Estava ciente do poder que tinha e jogava com algumas promessas de árbitros em termos de classificação no ranking final, pagando cada vez menos em dinheiro e fazendo prevalecer outras situações de favor. Alguns árbitros contentavam-se com isso, mas outros arriscavam e, sabendo que eles estavam a ganhar dinheiro com os seus favores, exigiam a quota parte deles. Surgiram então algumas ameaças de despromoção, e não faltaram desentendimentos, assim como processos de pura chantagem, ao melhor estilo de um filme que Jorge Gomes um dia alugou no clube de vídeo da esquina, «O Padrinho». Mas como o tempo não parava e a bola se revela teimosamente redonda, as coisas complicaram-se, até que se chegou ao final do campeonato, e o clube que tinha investido 50 mil contos para não descer jogava a sua última cartada em 90 minutos de futebol. Reinaldo Teles multiplicou-se em acções, jogando em vários campos, mas era tarde de mais para controlar todas as situações. Havia que investir em vários jogos, e o dinheiro tinha sido gasto no casino e noutros negócios. Mesmo assim, ainda tentou outras soluções, mas os adversários mais directos não andavam a dormir e também tomaram as suas precauções. Já depois dos 90 minutos regulamentares, uma das equipas, não incluídas no seu «pacote», e que jogava a norte, marcou o golo que lhe garantia a permanência. A aposta de Reinaldo Teles tinha falhado. Jogadores, treinadores e dirigentes nem queriam acreditar, e o presidente do clube que tinha dado os tais 50 mil contos para não descer evaporou-se durante mais de três semanas. Claro que depois choveram as desculpas e inventaram-se as maiores jogadas para encobrir o desastre. Reinaldo Teles, depois da tempestade, prometeu que na época seguinte esse clube subiria - e de facto, subiu, muito embora com um investimento menor. Era necessário salvaguardar a imagem para que o negócio não se perdesse, mas para tapar esses buracos houve outros investimentos que falharam. Por exemplo, numa tentativa de subida da 2ª Divisão B à Honra, fez-se também um grande investimento que, tal como o outro, não resultou precisamente na última jornada. Havia dois clubes com possibilidades de serem promovidos. Um deles estava a ser protegido por Reinaldo Teles e a sua organização, o outro vivia da habilidade de alguns dos seus dirigentes que se mexiam bem no seio da arbitragem e conheciam por dentro o negócio. Na última jornada, o clube que estava protegido por Reinaldo ia jogar a casa de um adversário cujo resultado já não contava para nada. O árbitro desse jogo tinha a promessa de que iria ser internacional, e Reinaldo garantiu que este estava controlado. O presidente do clube que queria subir prometeu mesmo uma prenda à mulher de Reinaldo Teles, caso o seu clube fosse promovido: - Ofereço-te um BMW novinho em folha. Eu sei que gostas deste carro, e o Reinaldo não se importa que eu te dê esse prenda. Luísa arregalou os olhos de contentamento e não mais deu descanso ao seu homem: - Vê lá o que andas a fazer. Ele tem que subir. Eu quero aquele BMW. Só que os outros não andavam a dormir. Tinham a situação controlada para o jogo que iam disputar em casa e a aposta tinha de ser feita no jogo com o outro adversário candidato à subida. Na semana que antecedeu esse jogo, já se sabia quem iria ser o árbitro do encontro. Era do Alentejo, terra onde abundam sobreiros e cortiça, e tal como o tal clube era de uma terra onde se fabrica muita rolha; através de um emissário foi dada uma palavrinha ao tal árbitro, mas a proposta no valor de 10 mil contos, foi prontamente recusada. Este foi o sinal de que o árbitro já estava feito com Reinaldo Teles, porque em relação à sua honestidade não havia rolhas que tapassem o fedor que ali se guardava... Só havia uma solução para combater a estratégia de Reinaldo Teles. Os homens da cortiça contactaram o clube a quem o resultado pouco interessava e, como os seus jogadores tinha os vencimentos em atraso, ofereceram-lhes 20 mil contos para ganharem. Era muito dinheiro, e ninguém resistiu à proposta. No dia do jogo, os homens da cortiça lá estavam com a verba combinada: 10 mil contos em dinheiro, trocado no dia anterior no casino por cheques e outros 10 mil em papel com garantia de altos dirigentes federativos da zona centro do País. Ávidos pelo dinheiro que lhes estava a ser oferecido, os jogadores nem pensaram duas vezes, e as habilidades do árbitro não foram suficientes para combater toda aquela (falta de) ambição... Reinaldo Teles tinha perdido mais uma aposta. Tinha falhado mais uma promoção. Fez, no entanto, os seus negócios e ganhou dinheiro com isso. Só mesmo a Luísa é que ficou sem o seu BMW. - Puta que te pariu, Reinaldo! Como se não bastasse o facto de não me foderes, ainda me fazes andar de Opel! - gritou Luísa, depois de mais uma «nega» do marido, numa noite, ainda para mais, de lua plena... - Desculpa, filha, acho que bebi de mais!- adiantou Reinaldo, antes de rolar os olhos rumo a um sono sem sonhos, os seus preferidos.

PC E AMIGOS - PARTE 4

José Silvano era apenas um exemplo de como alguns árbitros estavam agarrados a Reinaldo Teles e eram obrigados a executar todos os seus planos, muito embora, no meio de toda esta estratégia, surgissem algumas falhas no sistema. O certo é que os árbitros que mais dinheiro ganhavam com os negócios de Reinaldo Teles eram aqueles que apareciam mais vezes a apitar os jogos do seu clube, sendo-lhes exigidos favores à troca de nada. Quanto mais egoísta era o árbitro e mais gastador se mostrava, mais hipotecado ficava. Quando queriam montar negócios ou necessitavam de dinheiro para cobrir algumas despesas da sua vida particular, telefonavam a Reinaldo Teles, e este, salvo raras excepções, nunca se fazia rogado na execução dos empréstimos, mantendo sempre em sua posse alguns documentos comprovativos. Reinaldo Teles sabia bem avaliar a potencialidade dos empréstimos e quanto essa verba lhe iria render. Presos pelas dívidas, os árbitros em causa tinham de se submeter às ordens emanadas por Reinaldo ou Jorge Gomes, uma figura que, aos poucos, se foi transformando no braço direito do seu dilecto amigo. Os empréstimos eram abatidos mediante os jogos efectuados, mas a verba descontada na dívida era sempre muito inferior à que Reinaldo cobrava aos respectivos dirigentes que com ele contactavam. Alguns árbitros estavam fartos de ser explorados e começaram a surgir algumas fugas. Contactados pelos clubes adversários dos protegidos de Reinaldo, traíam os objectivos e colocavam-se do lado contrário, para dessa forma levarem algum dinheiro. A organização era rígida e não perdoava tais veleidades. Reinaldo estava fora de si e, descontrolado, até insultava os árbitros em público. - És um ingrato, mas vou tratar-te da saúde. Este ano já te dei a ganhar mais de 10 mil contos e tu traíste-me. `Tás fodido comigo. O árbitro, tentando arranjar desculpa para disfarçar o negócio que tinha feito, ainda ripostou: - Não podia fazer mais do que aquilo que fiz, senão era um escândalo. - Era um escândalo, o caralho!!! Não viste, há três jornadas atrás, o que fez o Chico?. Foi preciso marcar três grandes penalidades para ganharem, e ele marcou-os. Aconteceu-lhe alguma coisa? Claro que não. Ele está sob a nossa protecção. - Ó Reinaldo, desculpa lá, não me fales dessa merda de desonestidades nem de ingratidões! Para eu ter ganho mais de 10 mil contos, tu ganhaste o dobro ou mais. Eu também estou fodido contigo, porque no jogo que fiz anteriormente ajudei o clube que me pediste e não vi nem um tostão. Não me venhas, por isso, com a conversa de que te pregaram o mico. Eu soube que eles te deram o dinheiro, e eu não ando aqui a fazer fretes de graça, ou para ganhares só tu. - Está bem, está bem. Vais ver o que te vai acontecer! E aconteceu mesmo: esse árbitro, que tinha subido ao primeiro escalão no ano anterior, acabou por ser novamente despromovido. Reinaldo não perdeu a oportunidade para lançar o aviso sobre os outros: - Estão a ver o que acontece a quem nos tenta foder e não quer colaborar connosco? Abram os olhos, comigo é que ganham dinheiro! PC já tinha vários apoios associativos e alguns conselheiros na mão, e caso o presidente do CA não se deixasse influenciar, este já sabia que tinha os dias contados. Poucos foram os que conseguiram gerir com independência o sector. PC estava consciente da força que tinha e das alianças que possuía. Arrastava atrás de si uma grande força popular, argumentando com bandeiras políticas regionais; mas os que o seguiam de perto iam-se afastando, logo que verificavam que aquela bandeira servia apenas para encobrir os seus negócios e não perder o poder popular tão útil em situações menos favoráveis. PC era capaz de tudo para ganhar. Para ele, não existiam barreiras nem personalidades. Habitou-se a esmagar quem se lhe atravessasse no caminho. Duas semanas antes de um jogo entre gigantes (Porto-Benfica) e onde se iria discutir o título, teve um encontro com o presidente do Conselho de Arbitragem, naquela altura um homem isento e honesto, mas com a consciência de que tinha de ter uma certa flexibilidade em algumas situações. A nomeação do árbitro para esse jogo era extremamente importante, e o assunto foi discutido entre os dois: - Que árbitro é que lhe agradava para fazer o seu jogo? PC não respondeu. Pensou um pouco, pegou num papel e escreveu o nome de um árbitro de Setúbal (Carlos Valente), entregando o papel ao presidente do CA. Este analisou-o e concordou com a situação, até porque o árbitro tinha qualidade e não era daqueles que normalmente negociavam nos bastidores. O clube rival acabou por saber quem era o árbitro e também quem o tinha escolhido. O responsável pelo futebol desse clube, homem muito traquejado e capaz de fazer frente a PC, colocou um plano em marcha. Desconfiado de que PC já tinha o árbitro controlado, contactou com um dos seus fiscais de linha e negociou com ele o resultado do encontro. Tudo se passou nos arredores da capital no campo de um clube de escalão inferior, onde esse fiscal de linha treinava habitualmente com outros árbitros. Só que, no dia em que o responsável do clube da capital se foi encontrar com o tal fiscal de linha, o encontro foi presenciado por alguém que também tratava da sua forma física. Este, desconfiado, no dia seguinte ligou para Pinto da Costa. - Queria falar com o Senhor Pinto da Costa. - Da parte de quem? - responderam do lado de lá da linha. - Diga-lhe por favor que fala Maciel Feijoca. Bzzz, click... - Olá, está bom? Então o que é que manda? - perguntou PC do lado de lá do fio. - PC, ontem vi o Gaspar Ramos a falar com um dos fiscais de linha do árbitro que vos vai apitar no domingo. Ponha-se a pau. - Ah, sim! Esse gajo está fodido comigo! Vou já tratar do assunto. Depois de desligar o telefone, PC, lívido de raiva, ordenou que lhe fizessem uma chamada para o presidente do CA. Logo que este lhe surgiu do lado de lá do fio, entrou a matar: - Tem de me mudar o árbitro do nosso jogo! - Então não foi você que o escolheu? - Pois escolhi, mas soube agora que o Gaspar Ramos já contactou com um dos seus fiscais de linha. - Isso pode não querer dizer nada, e a faltarem três dias para o jogo não vou substituir o árbitro. Isso seria um escândalo. - Mas tem de ser, senão eu vou fazer um barulho dos diabos. - Faça aquilo que quiser, desde que seja você a assumir essa responsabilidade. Pode até dizer aos jornais que sabe desse encontro. A responsabilidade é sua. Sentindo a inflexibilidade do presidente do CA, ligou de imediato a Adriano Pinto, o homem que o socorria nos momentos de maior aflição, mas nem este conseguiu demover o presidente do CA da sua atitude. Pinto da Costa colocou então em movimento uma outra estratégia e, através dos meios de comunicação social, criticou aquela nomeação, levando, como era seu hábito, o assunto ao rubro. O certo é que no dia do jogo confirmaram-se as suspeitas, e o tal juiz de linha que fora visto a ser contactado pelo dirigente do clube adversário não se portou nada bem, prejudicando o clube de PC. Para agravar, um habitual suplente (César Brito) da equipa adversária até bisou, dando a vitória e o título à sua equipa. Pela primeira vez, o assalariado de PC que treinava a equipa (Artur Jorge) deixou o verniz estalar, chorando baba e ranho na cara do dito juíz de linha. À saída, os árbitros setubalenses levaram uma grande sova, e o chefe de equipa, coitado, sem saber de nada, até levou porrada da mulher de Reinaldo Teles. - Mas, meus amigos, eu não tenho nada a ver com isto, como vocês sabem - desabafava o apitador, enquanto colocava pomada na zona atingida. O que é que eu fiz para merecer isto? Como é que vou explicar à minha mulher estas arranhadelas nas costas? - E, mesmo sendo um homem valente, começou a choramingar... Pinto da Costa teve durante toda essa semana de provar o sabor amargo de que, afinal não conseguia controlar todas as situações. Sentiu que tinha de refinar os seus métodos e mandou chamar Reinaldo Teles para discutirem os dois o problema. Reinaldo Teles entrou envergonhado no gabinete do presidente. Não sabia o que dizer. Ele que julgava que tinha o mundo da arbitragem na mão, que tinha inclusive aconselhado o seu presidente a escolher aquele árbitro, e que acabou por ser traído. Pinto da Costa quando viu o seu «vice» entrar no seu gabinete, de cabeça baixa, disse num tom apaziguador: - Não vale a pena estarmos agora a bater mais no ceguinho. Temos é de tomar medidas para que uma coisa destas não volte a acontecer. - Ó presidente, sabe que não controlamos os árbitros todos. - Sei muito bem disso, mas a partir de agora, para estes jogos mais importantes, temos de fazer com que sejam nomeados árbitros da nossa inteira confiança e que alinhem no escândalo, se for necessário. O mais importante é ganharmos. Reinaldo ficou mais animado com as palavras do presidente e lançou um alerta: - Isto até é mau para o nosso negócio. Os outros árbitros começam a perder-nos o respeito, e nós acabamos por perder não só o controlo da situação com também aquele dinheirinho que entra todas as semanas. - O povo é de memória curta, e com mais umas vitórias esquece o que aconteceu no domingo. Pinto da Costa e Reinaldo Teles gastavam dinheiro à grande e à francesa. A paixão de PC pela Maria era cada vez mais forte, e isso trouxe-lhe custos exagerados, porque ela sempre se revelou uma mulher de gostos caros e tinha de garantir o futuro da filha de ambos, amealhando alguns cobres. E Reinaldo estava cada vez mais viciado no jogo. Em cada cidade que parava não resistia a uma visita ao casino local. O vício pelo jogo era tremendo. Até parecia castigo de Deus. Tinha entrado nos casinos para lavar dinheiro para os seus negócios pouco claros e acabou por ficar agarrado à roleta. Reinaldo sonhava com Las Vegas, e não havia quem o convencesse que não muito longe ficam os precipícios do Grand Canyon... - Mas no meu caso não vai ser assim. O dinheirinho que entra todas as semanas há-de dar para estas coisas e muito mais. O futebol é um grande negócio e, agora, que temos a arbitragem na mão, não nos faltará dinheiro - dizia Reinaldo a Jorge Gomes, na tentativa de o convencer a não o aborrecer mais com aquelas conversas de que ele andava a arriscar dinheiro de mais no jogo. - Quem não arrisca, não petisca! - gostava de repetir Reinaldo, especialmente quando desperdiçava umas milenas no preto para ver sair o vermelho, ainda para mais o vermelho... - Olha, essa merda do jogo ainda há-de ser a tua desgraça. Faz mas é como eu. Vou investindo nuns apartamentos. Pelo menos fico com o futuro garantido - dizia-lhe Jorge Gomes. - Não te preocupes com isso. O negócio vai melhorar. O presidente tem aí um projecto em vista que vai mudar isto tudo - respondia Reinaldo. Tornava-se muito arriscado tentar servir vários clubes ao mesmo tempo. As pessoas já falavam muito nessas histórias e qualquer dia rebentava um escândalo medonho. PC reuniu-se com Reinaldo, e ambos discutiram a nova forma de ganhar dinheiro com a arbitragem, mas com a situação completamente controlada ou, pelo menos, mais controlada. O futebol continuava a ser a guarida dos homens endinheirados à procura de promoção social. Ter muito dinheiro não bastava. Eles gostavam de ser conhecidos, e nada melhor que o futebol para promover socialmente os novos ricos. Reinaldo Teles sabia melhor que ninguém quais eram os empresários que manifestavam grande disponibilidade financeira. A maior parte deles eram seus clientes e deixavam no seu bar muitas centenas de contos através das suas raparigas contratadas. Era só arranjar uma forma de lhe aliviar um pouco mais a bolsa, e o futebol era o melhor meio para isso. O desporto-rei servia de capa para o mais variado tipo de situações. Era só saber aproveitá-lo. Servia para lavar dinheiro e principalmente para fazer esquecer certos preconceitos sociais. O exemplo de Reinaldo era o que mais evidenciava essa situação. Chegou ao Porto para servir na tasca do tio, foi um dos mais conhecidos chulos da cidade, continuava a viver à custa da exploração de carne branca, e as famílias mais conceituadas esqueciam-se disso tudo para o apoiar até à vice-presidência de um dos clubes mais prestigiados da Europa. A sua mulher, que palmilhou noites seguidas na Rua de Santos Pousada, era agora uma senhora bem colocada e apaparicada por todos aqueles que rodeavam o clube, não obstante continuar a ser a dona de um bordel. O futebol é um fenómeno social, e era necessário saber retirar o devido proveito desse facto. Pinto da Costa tinha vindo de boas famílias, mas era criticado pelos seus parentes, devido ao relacionamento que tinha no mundo da bola. A sua inteligência não deixava dúvidas e, unindo esse factor à facilidade com que Reinaldo se movimentava no mundo do crime, formava com Teles uma dupla quase imbatível. Reinaldo Teles só possuía a cultura adquirida na tasca do seu tio, e o seu discurso só tinha êxito no bas-fond da cidade. As entrevistas que ia dando só podiam ser concedidas a jornalistas da sua confiança, para que a sua ignorância não se manifestasse com tanta evidência, mas era eficiente nas jogadas de bastidores, e era nessa qualidade que Pinto da Costa o aproveitava. Não podia, porém, nem responder nem servir de escudo para os ataques vindos de outros clubes cujos dirigentes conheciam muito bem a sua actividade. Para além de não possuir a capacidade de PC, tinha muitos rabos de palha, e quando surgia em maior evidência nunca conseguia retirar muitos efeitos mediáticos. A sua grande mágoa era ainda não ter podido encontrar um negócio que lhe desse tanto dinheiro como os alternos. Muitas vezes lamentava-se com os seus amigos. - Tenho de acabar com esta merda. Até os colegas dos meus filhos na escola dizem que eu vivo das putas, que sou um chulo. Mas o dinheiro ganho com facilidade sempre superou essas mágoas e também não podia prescindir dos serviços da sua mulher, pois ela era uma «expert» no assunto e o segredo do êxito do bar de alternos. - É que isto de lidar com putas não é tarefa fácil para ninguém. Ou temos os olhos bem abertos ou somos comidos indecentemente. A minha mulher conhece o negócio como ninguém e todos os truques. Já não é comida com facilidade - consolava-se Reinaldo, nas noites de maior angústia, quando tentava ler uma obra de Eça de Queirós. Quem não dava muita importância a essa situação era Pinto da Costa. Para ele, até era bom que o seu amigo de maior confiança tivesse boas putas. Quantas mais ele tivesse, mais ele comia, e o bar sempre era um local de bom chamamento para os seus negócios menos lícitos. Pinto da Costa já tinha tido dissabores com alguns desses negócios, e os da arbitragem começavam a ser muito denunciados, mas como o dinheiro desse sector era muito e fazia falta, havia que se estabelecer um novo plano de ataque. As despesas eram muitas e, depois de falidas as empresas em que ele tinha gasto tantos milhões, quase toda a gente já sabia que ele vivia somente à custa da influência que o seu clube lhe fornecia para certos negócios. De vendedor de fogões a empresário falido, PC tinha, porém, a certeza de que o mais importante estava feito: o seu clube ia na crista da onde, e o cartão de crédito que tinha no bolso não tinha tecto. Afagando-o, PC acabou por adormecer embalado por um pensamento reconfortante: «Antes um bom Visa que um bis».

Começa a ser preocupante...

a falta de alternativas a Pinto da Costa! O homem anda tem a saúde toda(vaso ruim não quebra) mas a idade não perdoa. Seria uma boa altura, independentemente dos apoios em questão, para começar a trabalhar na sua "descendência" desportiva. Acima de tudo não deixar o Porto num vazio directivo caso algum tipo de situação lhe aconteça. Na minha opinião, existem duas personalidades do universo portista, com aspirações ao mais alto cargo da nação tripeira. Fernando Gomes e António Oliveira. E tanto um como o outro, apesar dos problemas que tiveram com o PC, são opções mais que apetecidas pela generalidade dos associados. Basta saber se PC estará na disposição de deixar algum apaniguado por cooptação ou se preferirá deixar que os boletins de voto sejam o factor decisório dos destinos do FCP. Uma coisa é certa, PC caminha para os 80 e a vida como tudo tem o seu fim. E este ciclo de 27 anos do largos não sei quê acabarão. Resta saber se PC estará com vontade de perpetuar as "glórias" do Porto ou apenas impor o seu consolado como o único que alguma coisa deu ao FCP. Saudações Leoninas

PC E AMIGOS - PARTE 3

Pinto da Costa e Reinaldo Teles tinham encontrado nos escalões inferiores as suas melhores fontes de receita nas negociatas directamente relacionadas com processos de corrupção na arbitragem. O nível dos dirigentes era mais baixo, e a vaidade dos endinheirados empresários que procuravam o futebol para evidenciarem a sua posição social estava a ser soberbamente explorada. Pinto da Costa esfregava as mãos. - Como é fácil ganhar dinheiro no futebol. Quando assumi a presidência do clube, nunca imaginei poder chegar a esta situação e ganhar tanto dinheiro. - Mas, desta vez, veja lá se tem mais cuidado com os investimentos que faz. Siga o meu exemplo; gasto algum no jogo, mas estou sempre bem de vida - juntava Reinaldo Teles, sempre prudente. - Isso não é de admirar. O teu negócio dá sempre. Agora estás a ver-me a gerir uma casa de putas? Toda a gente me caía em cima. - Não é bem assim. Vejam o meu exemplo. Não é segredo para ninguém que sempre vivi à custa da prostituição. Sim, porque não tenho as gajas para andarem a fazer cócegas aos clientes e eu não ganhar nenhum. Ninguém vai ao meu bar beber um copo porque o whisky de lá é muito bom ou a música óptima. - Nisso tens razão. A maior parte do whisky que lá vendes até está marado! Só mesmo as gajas é que são boas. Por falar nisso, já há muito tempo que não me apresentas uma novidade. - E a Maria? - Adoro aquela gaja. Pelo menos agora tenho-a junto a mim mais tempo e sem ninguém desconfiar de nada. Mas isso não quer dizer que não vá provando uma daquelas novidades que vão aparecendo. - Estou à espera aí de umas gajas novas que vêm da Rússia e hei-de arranjar-lhe alguma coisa. Mas, voltando à conversa anterior, não concordo muito consigo quando me diz que ter um bar de alternos é mau e que não dá prestígio. Você é testemunha de que esses gajos todos não me largam e estão fartos de dizer que sou um tipo porreiro. Até me querem fazer uma festa de homenagem. Não vê, nas viagens ao estrangeiro que fazemos com o clube, as mulheres deles a juntarem-se à minha sem qualquer tipo de preconceito?! Toda a gente sabe que é a minha mulher que gere as putas, que lida com elas todos os dias e, sabe uma coisa: mulheres dos nossos vices e de alguns dos acompanhantes que habitualmente nos seguem, fizeram-se grandes amigas dela e algumas até puxam conversa para saberem como é o ambiente no bar. Isto é um mundo de hipocrisia, e o que é necessário é saber viver nele. - Então eu não sei disso!? Eu levo muitas vezes a tua mulher aos jantares que os clubes estrangeiros nos oferecem, enquanto tu ficas com os jogadores. - Bem, mas aí eles não conhecem a Luísa. E ela até tem boa pinta. Pinto da Costa ouviu o telefone tocar, levantou-se do maple onde estava sentado e foi atendê-lo na sua secretária. - Tudo bem, obrigado. Após uma curta pausa para ouvir o seu interlocutor, PC puxou uma folha de papel e escreveu um nome. - Já sabia que ele nos ia nomear esse árbitro. Fui eu que lho pedi pessoalmente. Sabe, o jogo é importante e não podemos arriscar... OK! Até logo e obrigado. Era o Adriano Pinto - disse PC. - Ele está a ajudar-nos bastante. - Que remédio ele tem. Se não fosse assim, tirava-lhe o tapete. - Mas ele ajudou-nos bastante no início e pode ajudar-nos ainda mais. - Sei perfeitamente que tenho aprendido muito com ele. No início, foi o Adriano que me abriu os olhos e me ensinou que caminhos devia percorrer para ganhar os títulos que ganhámos. Mas agora quem manda no futebol sou eu. A força está do nosso lado, e se ele não fizer o que mandamos, não tenhas dúvida que lhe tiro o tapete, e ele sabe disso. Reinaldo Teles lembrou-se do quanto Adriano Pinto era importante em toda a estratégia estabelecida. Só a sua amizade já era bom para o negócio que começou a ser montado. Pinto da Costa tinha uma visão extraordinária em relação ao futuro e começou a urdir a sua organização. Reinaldo Teles e Jorge Gomes continuavam a dar todo o apoio nos negócios com os árbitros, apostando na ajuda a clubes de escalões inferiores. Com esta acção, iam ganhando algumas centenas de contos semanalmente e tinham cada vez mais os árbitros na mão, não sendo necessário, por isso, gastar nem um tostão quando esses árbitros viessem apitar o seu clube. Entrava-se num ciclo vicioso. Os árbitros ficavam de tal forma hipotecados a Reinaldo Teles que, quando fossem nomeados para os jogos com o seu clube, não tinham força moral para o trair e nem sequer era necessário comprá-los. Mas nem tudo corria da melhor forma, e Reinaldo teve consciência de que não dominava o sector conforme julgava, quando, por diversas vezes, saiu derrotado em acções por ele desenvolvidas. Em 1992, na última jornada do campeonato da 2ª Divisão, Reinaldo Teles foi contactado no seu bar por um clube que tinha hipóteses de subir de escalão e que ia jogar com outro que se não ganhasse seria despromovido. O negócio ficou acertado, comprometendo-se Reinaldo a entregar ao árbitro três mil contos, garantindo outro tanto para si. O árbitro era da capital e, depois de contactado num dos grandes hotéis da cidade por Jorge Gomes e Reinaldo, comprometeu-se a fazer o frete e a ir receber a verba combinada no domingo à noite ao restaurante do primo de Reinaldo. O clube protegido por Reinaldo era o visitante, e ao intervalo já estava a ganhar por 3-0 com uma arbitragem verdadeiramente escandalosa. A ameaça de invasão de campo estava iminente, mas nem isso assustou o árbitro da partida. Mas, perante tal situação, o presidente do clube visitado, sabendo que o negócio tinha sido feito por Reinaldo e conhecendo o montante da verba combinada, no interregno da partida entrou na cabina do árbitro e, com o descaramento que provinha do desespero, fez directamente a sua proposta ao árbitro e fiscais de linha. - Sabemos que Reinaldo Teles vos ofereceu três mil contos e vocês podem sair daqui mortos. Retirando uma pequena pasta de debaixo do braço, puxou de um grande maço de notas, colocou-o em cima da mesa que estava na cabina do árbitro e apostou forte quando disse: - Estão aqui cinco mil contos e queremos ganhar. A vossa protecção está garantida. Saiu da cabina do árbitro e esperou pacientemente pelos últimos 45 minutos. O inevitável acabou por acontecer: o árbitro deu de tal forma a volta à situação, que o jogo terminou com um resultado de 4-3. Reinaldo Teles tinha sido derrotado na sua estratégia e prometeu vingança ao árbitro. O certo é que esse árbitro abandonou o ofício mesmo antes de atingir o limite de idade. Reinaldo Teles sabia que tinha de ser duro na sua acção para não perder o controlo da situação, e Pinto da Costa avisou-o muitas vezes. - É necessário ser duro e inflexível. Ambos se recordavam bem de um caso passado uns anos antes com um árbitro algarvio que foi apanhado com a «boca na botija». Desde que tinha sido promovido ao primeiro escalão, Francisco Silva revelou uma grande ambição pelo dinheiro, aceitando negociar sempre que possível com Reinaldo Teles. Mas depressa verificou que era ele quem dava a cara e sofria a consequência dos escândalos a que ficava obrigado. Reinaldo ganhava tanto como ele e, por vezes, até mais. Este árbitro tinha falado várias vezes com os presidentes dos clubes que favorecia, e eles acabavam por confessar quanto tinham dado a Reinaldo ou a Jorge Gomes. Achou que aquilo era uma exploração e resolveu actuar por conta própria. Pinto da Costa teve conhecimento da situação e avisou Reinaldo Teles do perigo que aquela atitude constituía. - Vamos tratar da saúde desse gajo, para que não haja mais fugas. Quando souberes de um contacto directo, avisa-me que eu trato do resto. Reinaldo Teles assentou com a cabeça em sinal de concordância e saiu do gabinete do presidente a pensar na forma como deveria actuar. Jorge Gomes estava à espera dele e, depois de discutirem o assunto, não teve contemplações. - Vamos fodê-lo. Mandamos dar-lhe uma tareia, para ver se ele aprende. Reinaldo não respondeu logo, e passados alguns segundos acabou por dizer: - Dar-lhe uma tareia não é solução. O presidente garantiu que tinha outra estratégia. Só temos de estar atentos e avisá-lo quando soubermos de algum negócio directo. A oportunidade não tardou a chegar. Francisco Silva pedia que nem um cego, e a informação tão desejada acabou por chegar. O presidente do Conselho de Arbitragem (Lourenço Pinto) era da total confiança de Pinto da Costa e deu-lhe a informação tão esperada. - Temos o homem na mão. Ele telefonou ao Rocha (Manuel Rocha, presidente do Penafiel) e pediu-lhe dois mil contos pelo jogo de domingo. Vamos fazer-lhe uma emboscada. O Rocha leva um gravador quando lhe for entregar o dinheiro, e depois entramos nós em acção. - Sigam com a operação, mas lembrem-se que temos de ficar sempre de fora. Quando se viu desmascarado, o Silva chorou, pediu perdão, mas não adiantou nada. Tinha sido feito. Houve ainda algumas hesitações não sabendo bem se devia levar o assunto para a frente ou apenas pregar um tremendo susto ao Silva, mas o escândalo rebentou e não foi possível segurar a situação. PC e Reinaldo mais uma vez saíam ilibados do problema gerado, assumindo o papel de anjinhos, mas a força que detinham foi bem evidenciada. Para os outros árbitros, o aviso surgia sempre na forma de um «lembrem-se do que aconteceu ao Silva, que fugiu à nossa protecção, quis fazer os seus negócios sozinho e acabou por se espalhar; mais vale ganhar menos mas estar devidamente protegido». O sistema voltava a estar sob controlo, e a submissão da maior parte dos árbitros a Reinaldo era cada vez mais forte. Ele sabia que não podia perder aquele negócio. A árvore continuou a dar os seus frutos, mesmo fora de época. O restaurante do seu primo transformou-se num autêntico estabelecimento cambial, tal era o volume de negócios que ali se desenvolvia. Os cheque voavam de mesa para mesa, desaparecendo debaixo dos pratos de feijoada. José Silvano, um árbitro com algumas dificuldades na vida, devido aos maus negócios que tinha efectuado na sua empresa, necessitou, entretanto, de comprar uma carrinha e falou com Reinaldo para lhe emprestar três mil contos de modo a efectuar o negócio. Reinaldo levou-o ao presidente, e este não hesitou em passar-lhe o respectivo cheque para a compra da carrinha, mas exigiu ao árbitro que este lhe passasse um outro cheque da mesma importância, mas com um prazo mais alongado. Ambos concordaram, e o árbitro levou os três mil contos. Quando Reinaldo regressou ao gabinete do presidente, perguntou, um tanto espantado: - Não é um risco muito grande emprestar dinheiro a este gajo? - Claro que é sempre um risco, mas não vamos ficar sem esse dinheiro. Isso foi apenas um investimento. Nós vamos precisar dele. Passadas poucas semanas, o clube de Pinto da Costa lutava pelo título com o seu principal rival (perigosamente próximo, nessa temporada), e havia uma deslocação difícil mais a norte do País. PC chamou Reinaldo e explicou-lhe a situação: - No domingo, vamos jogar o título. Temos de ganhar de qualquer maneira, e as coisas não estão nada fáceis. Chegou a altura de pedir contas ao teu amigo árbitro. Reinaldo entendeu logo o que o seu presidente queria; pegou no telefone e discou o número do árbitro. Do lado de lá atendeu uma voz grossa e bem timbrada que Reinaldo identificou de imediato: - Olá, estás bom? - Quem fala? - É o Reinaldo. O presidente mandou-me falar-te, porque precisa daquele dinheiro que te emprestou. - Mas agora não tenho essa verba... - Mas tu prometeste!!! - Claro que prometi, mas as coisas correram mal. - Sabes que o presidente tem um cheque? - Sei. E o que é que ele vai fazer? - Nada, se tu te portares bem. - Olha que porra! Até parece que ando a portar-me mal! - Não é isso. Vais ser nomeado para fazer o nosso jogo de domingo e nós temos de ganhar de qualquer maneira. Não interessa como, temos é de ganhar. - Já sabes que comigo não há problema. Diz ao presidente que pode contar comigo. Mas vê lá se me toca alguma coisa. - Deixa isso comigo. Faz a tua parte, que nós depois cá nos entendemos. No dia desse jogo, José Silvano passou pela maior vergonha para dar a vitória ao clube de PC, inventando uma grande penalidade que nunca existiu, com a agravante de tudo isto se passar em casa do adversário, situação que lhe originou uma penosa fuga pelas traseiras. Mas ele já estava muito batido nestas «saídas à comandante», assim baptizadas porque normalmente aconteciam no «jeep» do comandante da GNR. Os jornais, a rádio e a televisão comentaram o escândalo, mas o título foi assegurado. Dias depois, o árbitro transmontano, que de bruto só tinha o aspecto físico, foi em busca do cheque dos três mil contos que tinha passado a Pinto da Costa, mas este nem sequer o recebeu, mandando recado por Reinaldo: - O presidente disse que aquele dinheiro nada tinha a ver com o empréstimo que te fez. São negócios diferentes. Nós fizemos-te um favor e tu retribuíste com outro. - Mas já viste o que passei no domingo para não ganhar nada com isso? - Tem calma que vais recuperar esse dinheiro. Eu disse-te que não havia problemas, não disse? E vais ver que não há. - Como é que então vais resolver essa situação? - É fácil. Vou arranjar-te uns joguinhos e clientes para te pagarem o frete. Nós ficamos com o dinheiro e abatemos à dívida. - Isso não é justo - disse o árbitro, ao mesmo tempo que dava um murro na mesa. - Não te enerves, porque a situação não é tão injusta como tu julgas. Já sabes que connosco podes ganhar muito dinheiro e vais até superar com toda a certeza essa merda dos três mil contos. Deixa isso connosco, que nós arranjamos-te jogos para cobrir isso e muito mais. De facto não faltaram jogos a José Silvano. Reinaldo não se cansava de lhe arranjar nomeações e pedir os respectivos fretes, mas a devolução do cheque é que nunca foi efectuada, tendo sido utilizado várias vezes para exercer sobre o árbitro os mais variados tipo de chantagem. Os escândalos foram-se avolumando, e o árbitro ficou de tal modo hipotecado à situação que mais tarde teve de fugir para o estrangeiro para evitar a prisão. Algures no Golfo Pérsico, onde tentava montar um negócio de camelos, o pobre árbitro dizia mal da sua vida: - Grandes cabrões, servem-se de uma pessoa e quando ela já não é necessária lançam-na pela borda fora. Mas eles não vão perder pela demora!