Vítor Pereira ao plantel do FC Porto: "Falta-nos alma de equipa"

Há vários tipos de liderança, desde o meio do círculo até ao topo da pirâmide, mas há duas características que me parecem fundamentais para se chegar ao sucesso: a motivação e a exigência.

Há aqueles líderes que são claramente motivadores, mesmo que não passem disso mesmo: pelo que leio e ouço, ocorrem-me Carlos Carvalhal ou Jesualdo Ferreira, por exemplo. Depois há aqueles que são manifestamente exigentes, que fazem da cobrança a sua maior carta na mesa, casos de Jorge Jesus e Jaime Pacheco. E há os casos raros, como Mourinho e Villas-Boas, que conseguem brilhantemente fazer uma mistura explosiva de motivação e exigência nas medidas exactas.

Vítor Pereira, assim à primeira vista, não parece ter nem uma coisa nem outra. Já me chegou aos ouvidos que o plantel está completamente desmotivado, assim como também já me chegou aos ouvidos que a exigência é tão pouco natural como a fluência do seu discurso e, quando assim é, os jogadores começam a não ligar muito ao que o treinador pede. E isso... é o princípio do fim.

Para finalizar, Vítor Pereira deve ter sido picado pela direcção ou deve ter passado a manhã a ler jornais (O Jogo de ontem foi de uma dureza implacável com ele) e resolveu descarregar com uma palestra em pleno relvado que pudesse dar um bom show para os jornalistas ouvirem. Teatro. E teatro tardio, que ainda é pior, já que esta exigência devia ser a ordem do dia desde os primeiros treinos, em todos os exercícios. Assim, e se realmente é verdade que a exigência não tem sido tanta quanto era preciso, soa a falso. A teatro. A conversa de quem tem a corda ao pescoço e quer mostrar serviço à pressa.

Vítor Pereira continua a ter todo o carinho da massa associativa como homem. Toda a gente valoriza a atitude que tomou pós-saída do Villas-Boas, toda a gente compreende a falta de experiência, toda a gente sabe que a saída do outro desmotivou a equipa toda e fez alguns querer zarpar também, toda a gente sabe que a equipa foi chegando às pinguinhas. E ninguém, estou em crer, mesmo perante o que se está a passar, questiona que a atitude da administração em escolher Vítor Pereira foi a solução mais plausível naquele momento.

Mas, como treinador, Vítor Pereira não serve. Com muita pena minha, não serve para este nível e começo a duvidar seriamente se vale a pena fechar os olhos e manter a maior estabilidade possível até ao final da época, sem ter de aceitar a crise com a mudança de treinador e a introdução de uma nova era. Ninguém queria, mas também já ninguém sabe bem qual o melhor caminho a seguir. Mas se há coisa que parece certa é que, depois de ter claramente perdido a equipa,Vítor Pereira entrou em rota de colisão com os adeptos e, quando assim é, não há grande volta a dar-lhe.

Ao que parece, a corda está presa por um fio e o outro está aí prontinho para vir bater à porta. Se continuarmos com esta apatia e esta falta de ideias nos próximos 2 ou 3 jogos, não percamos muito mais tempo. Detesto crises, não vejo grandes vantagens nas chicotadas psicológicas, mas começo a ter muito receio do futuro desta equipa. Quem começa a ganhar balanço numa descida está cada vez mais próximo de se despistar...

Abraço,
JC