Uma Europa que não se lembra de Munique

Barcelona e Real Madrid. Ou Real Madrid e Barcelona. Quando o tema passa por adversários a evitar na Liga dos Campeões, a Europa do futebol centra-se nestes dois. Todos os outros são “acessíveis”. Não sei se é bem assim.

Na Alemanha mora uma equipa que, há duas épocas foi apenas finalista da prova (só Mourinho foi melhor) e, na temporada passada, poderia perfeitamente ter repetido esse percurso, se a eficácia não tivesse ficado no hotel numa partida caseira frente ao mesmo Inter de Milão.

O Bayern de Munique é frequentemente, sobretudo na Europa, uma "máquina ofensiva". A irregularidade nas prestações locais impede a liderança na Bundesliga neste momento, mas a série recente de 20 golos em três jogos (!) fez despertar a atenção de muitos seguidores da modalidade.

Até então vi o nome do Bayern ser desprezado na generalidade de opinião pública, com exceção feita a um comentador televisivo que, há uns meses, alertou para a qualidade do conjunto da Baviera e colocou os homens de Jupp Heynckes no terceiro nível europeu – com o qual eu concordo – e também a alguns leitores precisamente daqui, do Relvado; alguns até já apelidam o Bayern como a melhor equipa nesta fase da época e já preveem um grande jogo de futebol na final da Taça da Alemanha, contra o Borussia Dortmund. Esperem para confirmar.

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O Bayern tem uma percentagem de jogadores formados no clube como há muitos anos não se via em Munique. Habitualmente cinco deles (quase metade da equipa) têm sido titulares: Lahm, Badsturber, Alaba, Kroos e Müller. E ainda há Schweinsteinger, Contento ou Emre Can. Ao todo, juntando Neuer, Boateng e Gómez, sete ou oito dos "óbvios" titulares são alemães.

Da mesma forma que o Bayern fornece mais de metade da habitual seleção alemã, também em Espanha há um clube que faz o mesmo em relação à equipa nacional local e também não se esquece da formação. Valdés, Piqué, Puyol, Busquets, Xavi, Iniesta, Fàbregas, Thiago, Pedro, Messi… E deixemos os suplentes de fora para a lista não ser demasiado longa. O Barcelona tem como base a sua escola e até já avisou: “No próximo verão vamos comprar… em casa”, apesar dos rumores à volta de jogadores como Neymar ou Bale.

Nas redondezas da Alemanha, o Basileia procede de forma semelhante. Na última partida europeia dos suíços, curiosamente contra o Bayern, seis dos titulares eram homens bem conhecidos da casa. Sim, perderam por sete, mas no campeonato local tem vindo a "passear" este ano e deverá conquistar assim o terceiro campeonato seguido.

Os três "B", ou se quisermos os três "Ba", dão o exemplo: Bayern, Barcelona e Basileia acreditam nos jogadores do seu país e ainda mais na formação; todos têm tido sucesso, cada um no seu contexto e a nível diferente. Aleguem agora que apostar na formação não dá resultado.

Em Portugal é parecido…

Para fechar, fiquemos pelo campeonato português, onde o cenário é bem semelhante… ou talvez não.

Continuando nos clubes de topo de cada país, por cá nem vale a pena fazer grandes contas. No FC Porto, Rolando e Moutinho são titulares indiscutíveis e os únicos portugueses; jogadores da formação nem vê-los no plantel atual.

O Benfica tem "meia dúzia" de atletas que passaram pelos seus escalões de formação, mas apenas Nélson Oliveira ganha algum destaque. Os restantes, grosso modo, nem figuram nos convocados. Nélson é também – e só nos tempos mais recentes – o único português que tem lugar na equipa inicial.

Há duas épocas o Sporting conseguia criar um onze titular só com jogadores portugueses e formados no clube de Alvalade. Agora há cinco no plantel inteiro e só Rui Patrício é titular indiscutível. João Pereira é o outro luso que figura quase sempre entre as escolhas iniciais.

De Braga chega um Sporting que corre o sério "risco" de ser campeão nacional pela primeira vez na sua história; e com um onze composto, na segunda volta, por jogadores maioritariamente… portugueses, imaginem a desgraça. Quim, Miguel Lopes, Nuno André Coelho, Custódio, Hugo Viana, Rúben Amorim e Hélder Barbosa. É certo que alguns alinham de início devido a lesões, mas estão lá. Não são outros estrangeiros que substituem os lesionados estrangeiros. Embora, entre os sete atletas referidos, apenas Quim tenha sido formado no Sp. Braga.

Mas estamos perante um assunto que já foi debatido dezenas ou centenas de vezes na praça pública portuguesa. E este rumo, apesar de mal calculado, não me parece que vá ser alterado tão cedo. Porque outros valores mais altos...