OPINIÃO: A batalha dos flancos | Relvado

OPINIÃO: A batalha dos flancos

Os laterais e extremos são cada vez mais decisivos no futebol moderno, escreve Pedro Mota, especiali
 

É uma verdade incontornável. No desenho tático em que hoje se desenrola uma partida de futebol, a procura e o aproveitamento dos espaços é decisivo para vencer jogos. Neste colete de forças em que as equipas se encaixam, onde a tática e o músculo se sobrepõem muitas vezes à criatividade, no uso eficiente dos flancos poderá estar a chave para as vitórias. O valor do metro quadrado nesta porção do terreno de jogo tem subido em flecha. A cotação dos jogadores que nele coabitam também. O choque de titãs, entre os médios-ala e os laterais cria momentos únicos. Os analistas prevêem-no. Os adeptos fervilham com cada despique. Quem ganhará a batalha pelos flancos?

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Um lateral já não se limita a defender. Deixou de ser um mero peão a fechar a muralha defensiva. Tem de atacar, e fazê-lo com uma frequência avassaladora. De igual modo, um médio-ala clássico não pode figurar só no ataque. Tem de recuar e ajudar a equipa, atuando como primeira linha defensiva no flanco. É precisamente nesta dualidade de tarefas que estes jogadores colidem. Avançam e recuam pelos corredores do jogo numa dança que dura os noventa minutos. Muito do sucesso do jogo passa pelos seus pés.

Não será por acaso que vemos jogadores a transitarem, com relativa facilidade e sucesso, de médios para defesas ao longo da carreira. Casos de Miguel e Coentrão são exemplos desse fenómeno recente. O inverso também sucede com alguma frequência. O exemplo máximo da complementaridade entre as duas posições é Daniel Alves do Barcelona. Entre clube e seleção, é comum vê-lo a jogar tanto a extremo como a lateral, sem nunca baixar o seu nível exibicional. Um pulmão inesgotável. Um caso ímpar este jogador.

É curioso verificar as semelhanças técnicas e físicas dos jogadores que desempenham estas funções. É-lhes pedido que tenham frescura física, capacidade atlética e endurance. Que percorram quilómetros, alternando períodos de explosão ofensiva com momentos de marcação defensiva e recuo tático. Têm de saber fazer um corte de carrinho no limite, lançar um contra-ataque, e na mesma jogada ir até à linha final e cruzar com precisão. São jogadores dotados tecnicamente. A natureza estreita do seu corredor de ação assim o obriga. Progredir junto ao flanco, entre fintas, tabelas sucessivas ao primeiro toque e desmarcações, não está ao alcance de todos. Capacidade de remate, e frieza a finalizar as jogadas também são atributos que lhes são exigidos. A competitividade é intensa e a fasquia elevada.

Não será certamente por acaso que jogadores como Cristiano Ronaldo e Messi procurem refúgio nos flancos para mostrarem toda a sua genialidade. Quando colocados a jogar mais perto da área, não escondem a sua insatisfação. Zonas do terreno densamente povoadas só favorecem os seus marcadores. Preferem arrancar de trás em investidas diabólicas que deixam os seus adversários por terra. Para nossa sorte ainda os deixam respirar junto à linha.

Palco de rivalidades lendárias, os flancos continuam a proporcionar os momentos de maior transformação no jogo. Como esquecer as batalhas entre Luís Figo, ainda capitão do Barcelona, e Roberto Carlos, na altura um 'touro' da lateral esquerda madrilena? Ou, mais recentemente, os duelos entre Cristiano Ronaldo e Ashley Cole, na Premier League e na Selecção Nacional a fazerem as delicias dos adeptos. Num mundo em que os jogadores saltitam de clube em clube, torna-se mais difícil repetir este tipo de batalhas que levam épocas de intensa rivalidade a forjar.

(Pedro Mota é um adepto atento e especialista no fenómeno futebolístico)

Leia outros artigos do mesmo autor:

+ OPINIÃO: O Veterano
+ OPINIÃO: O Estádio e o Adepto
+ OPINIÃO: Os mundos de Blatter e Platini
+ OPINIÃO: “Scholes means goals”
+ OPINIÃO: A busca continua...

diversos:

Comentários [7]

Seleccione a sua forma preferida de visualização de comentários e clique "Guardar configuração" para activar as suas alterações.

Fenômeno muito anterior

Para ser correto e conciso como muitos de vocês apreciam a adaptação, com sucesso, de médios ala ou extremos a defesas laterais, não e recente nem muito menos se traduz na pura adaptação de Miguel ou Fabio Coentrão a laterais, Carlos Secretario foi adaptado de extremo com sucesso sendo transferido para o Real Madrid, sendo que nessa mesma época deu;se outro caso de adaptação do então extremo Sergio Conceição.
Este tipo de registos costuma dar;se em situações que jogadores que a extremos ou médios ala são jogadores medianos, caso de Secretario, Miguel, Coentrão, sendo que as suas características de formação ofensiva nos clubes de maior poderio lhes permitem uma fácil adaptação a posição, pois não tendo de defender ou tendo de defender muito pouco e não sendo da sua incumbência o ataque constante conseguem ter uma disponibilidade física que lhes permite criar desiquilíbrios.

Os defesas laterais

Excelente descrição. Para um velho defesa lateral, que nunca passou de intérprete sofrível em campeonatos universitários, mas que tinha mais fôlego que habilidade, era irritante a limitação das incursões impostas pelos treinadores.
Atomo

Digam-me lá, que eu não devo

Digam-me lá, que eu não devo saber, o acordo ortográfico preconiza que se deve escrever em português do Brasil? É que eu julgava que apenas visava a uniformização da ortografia. Sendo assim, e porque eu sei que estou certo, digam-me lá por que raio se escreveu isto: " É lhes pedido que tenham frescura física, capacidade atlética e endurance. ?

Bem visto

Já está corrigido. O Relvado agradece o seu olho de lince.

gosto

gosto

Depois não me venham acusar

Depois não me venham acusar de picuinhices, que estou farto de ver o português a ser tão maltratado, sobretudo por quem devia dar o exemplo.

Concordo consigo em alguns

Concordo consigo em alguns aspetos mas para estar em comunidade ......é necessário o bom senso.