OPINIÃO: A encruzilhada do River | Relvado

OPINIÃO: A encruzilhada do River

Um dos Grandes do nosso futebol descia de divisão. Como é que iríamos reagir? Pergunta Pedro Mota, e
 

Imaginemos o seguinte cenário: um dos Grandes do nosso futebol descia de divisão. Como é que iríamos reagir? Sendo o nosso clube de sempre, ou um clube rival. O que faríamos? É este o dilema do futebol argentino, agora que a sua primeira divisão ficou órfã do seu clube mais titulado. Não haverá superclásico durante uma época. A velha rivalidade, River versus Boca, que tanta paixão desperta no universo do futebol fica, para já, suspensa. A equipa da faixa encarnada irá perder por falta de comparência.

A descida ao inferno do River Plate é apenas a ponta do icebergue. O futebol das Pampas está severamente doente. Os clubes enfrentam graves problemas financeiros, a corrupção grassa a todos os níveis, a violência alastra nos estádios e o crime organizado dita a lei. As imagens que correram o mundo, de uma Buenos Aires a ferro e fogo, após o final do playoff entre o River e o modesto Belgrano, já não causam espanto. Entre as pedras arremessadas e os canhões de água, fica a sensação que finalmente o futebol argentino bateu no fundo. O fim de uma era. Nessa infame madrugada, os "hinchas" do River, soltaram toda a sua raiva e do desespero coletivo saiu uma certeza. É preciso uma mudança drástica de rumo.

O futebol sul-americano sempre foi suigeneris na forma como desenha as suas competições. O exemplo argentino será porventura o mais “criativo”. A época divide-se em duas provas – a Apertura e a Clausura. No fundo elegem-se dois campeões por temporada. Inovador. Mas nada comparado com o esquema que foi montado a partir de 1983, para evitar que clubes grandes como o River descessem de divisão automaticamente. Se um clube terminar nos ultimos lugares da tabela ainda pode estar safo. O que seria... É calculado um valor, na qual são somados os pontos ganhos das três epocas anteriores (Apertura + Clausura) e dividido pelo numero de jogos efectuados. No caso do River, o seu coeficiente de 1,237 colocava-o em 17º nesta tabela e portanto já sabia que dificilmente não iria jogar um playoff para assegurar a permanência no escalão máximo. Apesar dos 57 pontos que somou esta temporada, os 41 pontos da época 2008/2009 e os 43 pontos da época 2009/2010 colocaram-no nesta ingrata situação. É curioso verificar que o Boca Juniors tambem não ostenta um valor que lhe permita estar seguro. Não deixa de ser irónico que o mesmo formato que privilegia os clubes grandes, tenha arrastado o River para a segunda divisão.

O River é o espelho da confusão que reina no futebol alvi-celeste. Em 110 anos de história e com 33 títulos conquistados, vive hoje o seu período mais negro. O clube tem dividas na ordem dos 47 milhões de euros, somas astronómicas em salários por pagar e os pesos dos patrocinadores a fugirem-lhes das mãos. A descida de divisão irá representar também um quebra colossal nas receitas televisivas. A dificuldade em formar equipas competitivas tem-se acentuado devido à necessidade e ganância em vender os seus melhores jogadores ainda em tenra idade para o futebol europeu. Sobra-lhes um plantel de jogadores de qualidade mediana e de veteranos como Ortega e Gallardo em final de carreira, já diminuídos e desinteressados. Terão novamente de vender os seus craques para suportar uma travessia no deserto que se deseja curta. Os jovens Lamela e Funes Mori estão na montra. Os tubarões europeus sabem disso e agora partem em vantagem nas negociações por terem o River com a corda na garganta. Saber quando vender e quando comprar é uma arte que o River dantes dominava. O atual presidente, Daniel Passarela, tem revelado uma aptidão no mínimo sofrível nesta matéria.

Na ressaca dos acontecimentos, onde impera uma maior lucidez, unem-se as vozes que reclamam o inicio de uma era nova para o futebol argentino. Da adversidade deverá surgir uma oportunidade para repensar, renovar e melhorar. Até jogadores e dirigentes do seu arqui-rival Boca Juniors, dizem que o campeonato não será o mesmo sem o River. É óbvio que não. A perda de receitas para os outros clubes será também acentuada. O cachet dos jogos contra o River será uma miragem. A ausência do superclásico vai ser dificil de digerir. As descidas de divisão, improváveis e espectaculares, dos clubes ditos grandes, não são inéditas. Casos da Juventus no verão do Calciocaos e do Corinthians recentemente no campeonato brasileiro, são prova disso.

Pergunto-me o que dirá Alfredo Di Stefano, velha glória que despontou nos Milionários, de toda esta confusão?

Internacional:

Comentários [9]

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Bravo! Grande artigo!

Quanto ao nosso campeonato, a descida de um dois titãs a mim não me incomodava nada. Mais espaço para o meu SCP!

Desportivamente é quase impossível

e administrativamente é mesmo impossível. Já existiram motivos mais que suficientes para alguns dos grandes descerem de divisão e nada foi feito. Do ponto de vista desportivo, mesmo que isso estivesse na iminência de acontecer o que, acho extremamente dificil, existiram sempre formas de o contornar, dentro e fora do campo!
Vou dar um exemplo do poder dos grandes, inclusivamente fora da órbita desportiva, Vale e Azevedo só foi preso após perder as eleições do SLB, pois caso as tivesse ganho não haveria coragem policial, politica e judicial para o fazer. Considero que no nosso país, os dirigentes dos grandes são "intocáveis".

Relativamente ao River Plate, desceu de divisão graças a um sistema que, a par do Boca, idealizou. Ao futebol argentino falta dinheiro e o campeonato é cada vez mais equilibrado (alguém sabia há uns anos quem era o Godoy Cruz ou o All Boys ou o Banfield?), bastando atentar às diferenças classificativas entre o torneiro de abertura e o torneio de encerramento. O River Plate tem quase cem jogadores seniores sob contrato e é uma máquina pesada do ponto de vista administrativo, o que torna o clube dispendioso e com as mesmas receitas que outros (mais contidos nos gastos). A salvação do River vai ter três nomes, Lamela, Funes Mori e Pereyra, sendo que o actual valor de mercado destes três activos desvalorizou imenso, basta atentar que Lamela custa 8/9 milhões (jogador que teve parte da sua formação no rival Boca Juniores) e valia 16/17, Funes Mori valia 9 e hoje vale 2/3 e Pereyra valeria 5/6 hoje vale 4. Vender estes activos para equilibrar as contas, dispensando outros elementos caros como Pavone ou o guarda-redes (que se encontram emprestados) serão os primeiros passos, mas uma reforma profunda é obrigatória no clube, repensando a sua politica de formação, o seu gigantesco quadro de jogadores e treinadores, etc. Estes anos na segunda divisão poderá até ser positivo para o clube se organizar e surgir em força no lugar onde, efectivamente, merece estar, ou seja, na primeira divisão.

Fazia-se como o porto fez no

Fazia-se como o porto fez no tempo de salazar, quando a equipa descesse de divisao pedia-se ao cavaco silva um alargamento de equipas do nacional para permitir continuar na primeira liga...
O porto sempre mostrou saber lidar bem com as descidas de divisao, o castigo que foi alvo por andar a meter mulheres nas camas dos arbitros ou a recebe-los em casa do presidente so mesmo num campeoanato corrompido que nao vale uma valente descida de divisoes... A mafia é assim, esguia como uma cobra

Por mim que desça o Benfica.

Por mim que desça o Benfica. Adeptos cagões e nao valem nada

e já agora os corruptos

e já agora os corruptos mereciam ser homenageados...

Se a corrupção desportiva cá fosse punida...

A exemplo de que aconteceu em Itália já tinha acontecido...

Pessoalmente

nunca desejarei que Benfica ou Porto desçam. Desportivamente, pelo menos. Se for por batota, espero que desçam aos regionais e que penem bastante até regressar ao principal escalão. Não gosto de batota.

ha quem nao se importe com

ha quem nao se importe com isso.

não é o howard king

ou é a esse que te referes?