O novo Sporting: corte de relações com o FCP

Viva. "Só sei que nada sei" (Sócrates, filósofo grego da Antiguidade).

Escrevo estas linhas com o objetivo de dar uma opinião de leigo, não jornalística, sobre os caminhos que o Sporting terá de percorrer para sair da situação fragilizada em que se encontra.

Gostava, contudo, de referir que a minha principal paixão não é assim tão clubística mas sobretudo a valorização dos jogadores portugueses e essencialmente a aposta que todos os clubes devem fazer no jogador português, formado ou não em Portugal.

A minha atenção neste conjunto de artigos que agora inicio vai para o Sporting Clube de Portugal, por duas razões: primeiro, porque o nosso campeonato precisa de um Sporting competitivo; segundo, porque é claramente o clube português da atualidade que mais investiu no desenvolvimento das camadas jovens. Seria desejável que outros clubes fizessem o mesmo, mas nos próximos 5 anos isso será talvez pedir demais.

Vamos por partes. O Sporting precisa de tomar decisões muito corajosas e inteligentes ao mesmo tempo, correndo o risco de a curto prazo deixar descontentes alguns adeptos. Em primeiro lugar, deve olhar para dentro e escolher a sua estratégia, sabendo-se que pelo meio terá de fazer alguns negócios que poderão em primeira mão ser considerados maus negócios mas que na verdade serão cruciais para a sua sobrevivência e estratégia a médio prazo.

Cabe aqui dizer que o corte de relações com o Futebol Clube do Porto emocionalmente pode ser positivo mas na tal estratégia profunda é um erro e explico já porquê.

O Benfica tem uma estratégia bastante simples, mas que nos impede de fazer qualquer acordo estratégico com eles. Eles são o oposto da nossa estratégia. Comprar jogadores estrangeiros a baixo preço, valorizar os jogadores e depois vender a um preço alto - essa é a estratégia do Benfica. É uma boa estratégia para o Benfica mas não para o futebol português e só por isso não me agrada.

A estratégia do FC Porto é semelhante, mas com uma diferença de pormenor. Das conversações que tive com adeptos e dirigentes, deu para perceber que gostariam de fazer algo diferente. Estão satisfeitos com os títulos mas sentem-se incomodados ao ver que não há muito futuro para o futebol português (leia-se futebol de equipas portuguesas com jogadores portugueses de referência). Já o Benfica não tem qualquer problema, pois essa é a sua estratégia assumida, como se viu na final recente da Liga Europa.

A estratégia do Sporting deve ser arrumar a casa, vender e sobretudo emprestar a maioria dos jogadores que precisam de ser bem vendidos daqui a um ano no mercado e lançar gradualmente os talentos que saem da formação.

Acontece que o caso do João Moutinho, apesar do que se possa dizer, é um excelente exemplo do que se deve fazer. Sabemos bem o que o FC Porto fez neste negócio, mas aqui o Sporting deveria ver uma oportunidade em vez de fechar a porta, pois com um pouco de diálogo outros negócios poderiam ser feitos com a mesma lógica mas tentando assegurar uma maior lealdade institucional entre os dois clubes, que são grandes não só quando ganham mas também quando a atitude é leal.

No negócio João Moutinho, o presidente do FC Porto ironizou, dizendo que o Sporting até deveria estar agradecido. Contudo, isso é verdade no contexto atual. O Sporting de hoje não consegue vender jogadores com a valorização que o FC Porto consegue, isso é indesmentível. Sabemos bem que o João Moutinho foi transferido por um valor semelhante ou superior ao do valor do James. O FC Porto quis ficar com mais dinheiro e então fez o que fez, é normal e humano embora pouco ético. E essa questão ética é que deveria ser colocada em cima da mesa, apenas isso. É isso que o FC Porto quer? Será essa a imagem que quer dar para fora? Pois bem, às vezes ganham-se no presente para se perder no futuro.

O que o Bruno Carvalho deveria ter feito e não fez: falar com o Pinto da Costa, dizer-lhe que o que foi feito retira grandeza ao clube Futebol Clube do Porto e apresentar propostas para o futuro que são do interesse dos dois clubes. Simples.

Como sei que o corte de relações com o FC Porto é uma realidade e que o Benfica está a milhas da estratégia do Sporting, só vejo uma solução. O Sporting deve enviar emissários aos clubes que irão estar em força nas competições europeias e deve tentar emprestar ou negociar os jogadores que estão no plantel e precisam de ser colocados na "montra".

O negócio Moutinho, mas feito com clubes estrangeiros que preservam a sua imagem e honestidade, é uma excelente pista. O Bruno de Carvalho precisa de estar atento a isso e colocar-se em campo desde já. Há muito trabalho a fazer.