O "monstro" Jesus

“A imprensa criou um ‘monstro’”, disse há uns meses um comentador desportivo num dos canais informativos referindo-se a Jorge Jesus. Com efeito, a imprensa criou um “monstro”. Já não lhe bastava o ego desmedido, acrescentou-se o afagar do ego pela imprensa e o “monstro” tornou-se enorme.

Jorge Jesus teve no decorrer destes anos em que esteve no Benfica boa imprensa, resultado não só do clube em que trabalhava, porque grande e com imensos adeptos – inclusive na imprensa –, mas também de uma boa relação que manteve com jornalistas e comentadores e que, por força disso, o idolatraram afagando-lhe o ego como tanto gosta.

Com efeito, Jorge Jesus ganhou três campeonatos ao serviço do Benfica; algumas taças da liga, uma taça de Portugal, e uma supertaça, se não falho nas contas. E como de vitórias se faz a história, as derrotas são esquecidas. As derrotas, porém, no caso de Jorge Jesus devem ser analisadas, porque mostram muito do pouco que Jorge Jesus vale como treinador.

Vem isto a propósito da recente eliminação do Sporting no play-off para a liga dos campeões.

Vejamos, por conseguinte, os factos sobre Jesus nos seis anos que esteve à frente do Benfica.

Primeiro facto: Jorge Jesus teve sempre boas equipas, exceção feita a do último ano. Logo, tinha obrigação de fazer bons campeonatos e ganhá-los. Mas ganhou três, de seis possíveis.

Segundo facto: Jorge Jesus só por uma vez passou a fase de grupos da Liga dos Campeões. (E este ano nem conseguiu passar no play-off.)

Terceiro facto: chegou a duas finais da Liga Europa e perdeu ambas. E uma meia-final perdida para o Braga, de Domingos Paciência, que recentemente foi despedido novamente de um clube.

Quarto facto: o primeiro campeonato que ganhou foi o último ano em que Jesualdo Ferreira treinou o Porto (e refiro apenas o Porto porque o Sporting, infelizmente, nesses anos andava perdido). E nesse ano, contudo, Domingos Paciência, com o Sporting de Braga, deu-lhe luta até a última oportunidade.

Quinto facto: o seu segundo campeonato ao serviço do Benfica é ganho quando o Porto tem um treinador como Paulo Fonseca, e o Sporting está numa fase de início de projeto, embora dando luta quase até ao fim.

Sexto facto: o seu terceiro campeonato é ganho quando o Porto contrata um treinador espanhol que comete uma série de erros no início do campeonato, e que mesmo assim só fica a três pontos do Benfica; e quando o Sporting tem Marco Silva como treinador, que teve os problemas que se sabe com a direção.

Sétimo facto: perde três campeonatos seguidos para dois treinadores inexperientes: André Villas-Boas, cuja única experiência como treinador fora treinar a Académica, e posteriormente Vítor Pereira, que havia sido adjunto daquele e nunca havia treinado na primeira liga.

Oitavo facto: sempre que jogou com equipas mais fortes, inclusive no campeonato português, deixava o seu sistema e modelo tático para apostar noutro, mostrando medo (fazia no campeonato, fazia nas competições europeias), e que resultou sempre em derrota. E mais do que isso, resultou em perdas de campeonato.

Eis a obra de Jorge Jesus. Obra mais por demérito dos outros, do que pelos seus méritos.

Na verdade, Jorge Jesus tem apenas três coisas que o distinguem como treinador: a capacidade de pôr as equipas a jogar com intensidade logo nos primeiros jogos, mesmo que essa equipa seja toda nova; a capacidade de tirar o melhor rendimento dos jogadores e aproveitá-los noutras posições; e por fim, a metodologia de treino, que faz com que as equipas joguem com intensidade mas também que taticamente sejam irrepreensíveis.

Assim, o que temos é um treinador que, de entre muitas outras qualidades que fazem um treinador, apenas tem três. Serão estas suficientes? Não. Como não o foram.

Importa, por fim, salientar o que Jorge Jesus tem de pior como treinador: fazer substituições apenas a partir dos 65 minutos; pensar as substituições antes dos jogos e mantê-las mesmo quando o jogo não está a correr de feição (como se comprovou contra o CSKA); e consequentemente, nunca arriscar nas substituições quando está a perder, como seja tirar um lateral para apostar num avançado, e afins; apostar nos estrangeiros em detrimento dos portugueses, mesmo que esses estrangeiros sejam jovens, o que não sucede com os portugueses; ter a mania de que um jogador deve ter porte físico; apostar nos nomes, como se vê pelas apostas em Carrillo e Bryan Ruiz, que estão abaixo da qualidade de Carlos Mané. Eis alguns dos defeitos de Jorge Jesus.

Por muita boa imprensa que tenha e campeonatos que tenha ganhado, a verdade é a que está escrita.

Esperemos que a sua passagem pelo Sporting contrarie tudo que foi dito. Para já não contrariou.