Sá Pinto: "O Sporting tem sido superior a todos os adversários"

Só pode andar a dar na "Candida branca-flor"! lol

Eu tenho pouca paciência para fazer comentários longos e para escrever artigos ou crónicas, o que seja. Todos os dias uma leitura me provoca um desejo imenso de escrever mas acabo sempre por não fazê-lo em virtude de (querer) ser perfeccionista e achar que não devo escrever por escrever, antes escrever com princípio meio e fim. Traduzindo, escrever sempre com referência a autoridades, fontes fidedignas etc., que dá imenso trabalho. E porque te estou a dizer isto? Passo a explicar.
Em tempos expressei aqui a opinião de que achava que os treinadores portugueses foram todos beber ao Mourinho e a essa ideia – que é, quanto se sabe, influência das leituras que ele fez das obras de António Damásio – de que as emoções têm mais importância no sucesso do que a razão e o QI elevado. Quanto a esta tese, parece ser verdadeira (digo parece, porque nada é definitivo, mesmo na ciência).
Ora, desde que Sá Pinto está no Sporting que sempre achei que ele não era diferente dos outros treinadores e que bebia do mesmo, e tanto mais o bebe quanto o facto de ele ter cursado gestão, ou algo do género, cujos cursos abusam dessa teoria, e cujo exemplo podemos ter no que o Sá Pinto disse na última conferência: “estamos fortes” , isto dito após uma derrota. Esses cursos e derivados são apologistas de que o optimismo deve sempre prevalecer em oposição ao quer que seja. Por outras palavras, não se deve dramatizar, antes se deve manifestar sempre de que somos capazes, que não podemos desistir, que antes uma palavra de incentivo do que dramatizar a situação. E o que o Sá Pinto disse é demonstrativo de que ele aprendeu bem a teoria. Repito, a teoria.
Antes de me alongar mais um pouco sobre o que venho dizendo, deixa-me dizer-te isto: dizes que o Sá Pinto é uma pessoa emocional. Não o somos (as pessoas normais) todos? Tanto quanto se sabe (tenho para aí isso num livro que li há uns anos) foi o António Damásio que um dia com um seu paciente descobriu que havia uma parte do cérebro (não posso precisar qual, qualquer coisa como córtex ou neocortex, qualquer coisa assim) onde se situavam as emoções. Esse paciente tinha tido um acidente e fora danificada essa parte do cérebro. O indivíduo continuava inteligentíssimo, com um QI elevado, mas não tinha emoções e a sua empresa fracassou devido a essa falta de emoções, porquanto o indivíduo à falta delas não soube gerir a empresa. O Damásio deduziu então que era devido a essa parte do cérebro danificada que o paciente tinha deixado de ter emoções. E portanto era aí que se situavam as emoções. E com efeito a inteligência emocional é muito importante no sucesso. Os psicopatas também raramente têm emoções, embora no tocante a isto não seja totalmente certo. Ora, só excepcionalmente as pessoas não têm emoções, tais como as acima referidas (psicopata, um cérebro danificado). Não tê-las seria ser um morto-vivo, assim como quem diz. Portanto, creio que deves ter escrito à pressa e nem pensaste no que terás escrito.
Voltando ao que dizia acima. Estava a dizer que não tenho pachorra para escrever textos se não forem bem pensados e subsequentemente bem escritos. Pois bem, pensava um dia destes em escrever algo sobre a forma como via o Sá Pinto a ser treinador e de seguida alongar-me para os restantes treinadores. Não o cheguei a fazer nem o farei. Mas uma vez que falaste na questão emocional e sobretudo na vertente motivacional do Sá Pinto, que dizes ser uma das suas características, achei que poderia escrever alguma coisa, ainda que não de longe como pretendia.
Neste sentido, repito o que acima disse. Todos os treinadores foram beber ao Mourinho e à ideia de que era preciso uma prática da psicologia da motivação para se ter sucesso como treinador. (Isto, de resto, surge muito da profusão de livros que se escreveram sobre o Mourinho e que os treinadores – diria que quase todos – lerem. Em alguns deles falava-se do Damásio e daí que muitos deles também este leram.) Mas não só. Também a ideia de que uma equipa de futebol deve ter um treinador líder que seja como um gestor – aliás, costuma-se empregar com uma certa falsa sabedoria esta expressão: gestor de homens. Gestor, psicologia motivacional, tudo isto não sendo ideias de Mourinho são-lhe no entanto atribuídas. E, portanto, dado que lerem o que dele se escreveu, todos beberam do mesmo. E para Sá Pinto ainda contribuiu toda a aprendizagem que fez no curso. E depois ainda há os mind games , de que Sá Pinto não parece ser apologista. Há outros que o são.
Convenhamos: tudo isto está gasto. Quando se começou a falar de todas estas práticas aplicadas pelo Mourinho era tudo uma novidade, mas hoje deixaram de o ser e estão gastas pelo tempo e pelo muito que delas se falou. É tudo uma treta e os jogadores já não caem. Já ouviram falar disso, e tanto ouviram que já não pega. E contudo os treinadores portugueses parecem insistir nestas ideias. Amarram-se a elas e não as largam. Em vez de investirem em novas práticas, e sobretudo aprenderem mais de futebol porquanto o mais importante, amarram-se a estas ideias como verdades absolutas e condições necessárias para o sucesso. Se foi para um, não decorre que o seja para outros.
Atentemos: uma equipa de futebol é constituída por várias subjectividades. O que para um tem efeito, para outro não tem. Por outro lado, pode-se, como Mourinho e certos treinadores o fazem, falar-se de vez em quando com este ou aquele jogador isoladamente. Mas terá isto efeito? Os jogadores de futebol hoje em dia com os seus ordenados milionários, vidas milionárias, darão ouvidos a quem quer que seja? Quem não se lembra de o Moutinho ter dito no Alta Definição que por vezes lhe dava sono nas palestras? É sintomático o que o Moutinho disse. É a prova de que a psicologia motivacional é uma treta pegada. E confesso que vejo o Sá Pinto no balneário com todo aquele modo de ser dele e o palavreado aprendido destas ideias a falar no balneário e quase todos a assobiar para o ar.
Que fazer para mudar? Que medidas adoptar? Que práticas adoptar? A minha teoria é simples: primeiro de tudo, perceber muito de futebol, pois só assim um treinador pode ser levado a sério. Segundo, saber respeitar essas subjectividades e dar-lhes ouvidos. Os jogadores devem ser ouvidos. Um treinador não pode ser uma espécie de ditador. Terceiro, ser o mais justo possível com todos os jogadores. E para esta poder efectuar-se, uma equipa não pode ser constituída por mais de 20 jogadores, pois só assim se pode ser justo com todos dando oportunidades a todos.

Qualquer leigo em futebol percebe que o Sá Pinto não é o treinador para ganhar nada. É sim treinador (como os anteriores, à excepção do Domingos, por isso teve de sair) par sancionar os negócios das contratações, mesmo que não sejam boas para o Sporting. Queremos treinadores com personalidade que não se deixem manipular pelos dirigentes oportunistas.