LE: Domingos Paciência em Sevilha «à procura do sonho»

Eu não tenho o dom das palavras, e isso é bem manifesto nos meus comentários. De facto tenho imensa dificuldade em escrever o que penso. Mas isso não invalida que não tenho noção da língua e que não saiba gramática. Ter dom, é uma coisa, saber gramática é outra e ter noção da língua uma outra. Com efeito, um bom gramático pode não ser bom escritor. Um bom escritor pode até nem saber muito gramática. Já um bom conhecedor da língua pode ser ambas as coisas e nenhuma. Ser apenas um bom leitor. Eu ando entre o gramático e o que tem noção da língua.

Por exemplo, o que acontece se um treinador resolver dar uma ensaboadela de pseudo-motivação antes de qualquer jogo, indiscriminadamente? O mais certo é que os jogadores banalizem essa mensagem, mesmo inconscientemente, e depois, em campo, nem se recordem de mais um discurso pré-formatado do seu mister. O problema é que, grosso modo , o discurso do treinador típico português hoje é um discurso que quase não tem efeito nenhum, se tem mesmo algum. E é-o não só porque é pré-formatado, estereotipado e por isso a mensagem não passa, ou não tem passado, mas é-o igualmente porque o jogador hodierno é tão egocêntrico e ao mesmo tempo inteligente (?) que já não vai na ladainha de qualquer um. Ora repara: porque é que os treinadores português não têm tido sucesso nas equipas portuguesas e os estrangeiros têm? Porque como estes mal sabem falar português os jogadores lá o vão tentando levar a sério. Exemplo tem sido o Benfica e o nosso Sporting, que têm tido resultados apenas com estrangeiros. (Porque o caso do Benfica do ano passado é um caso à parte, porquanto foram vários factores que levaram ser campeão.) O Porto, por exemplo, teve sucesso com Jesualdo, que poucos gostavam. Mas já reparaste no discurso do Jesualdo? Era muito diferente do discurso do típico do português treinador. De longe. Tenho reflectido sobre o assunto e este tem sido o principal problema do futebol português, este e o facto de se colarem ao Mourinho. (o problema do Benfica além do guarda-redes e das vendas não será também devido ao descrédito que Jesus vai tendo no meio dos jogadores? Quero dizer, ele é o típico treinador português, mandão, resmungão, autoritário (viu-se o ano passado na liga Europa quando da lesão do Júlio César) etc. e pode muito bem ter perdido o crédito ante os jogadores, porquanto me parece que se tolera uma vez, duas, mas três já não.)