Aos ingleses só interessam os campeões

A Inglaterra, líder da tabela UEFA no que diz respeito a clubes, tem a meio de março apenas um representante na Europa. E esteve perto de ver o Chelsea ser também eliminado.

Não há que esconder: quando em Inglaterra se fala em competições europeias, só interessa a Liga dos Campeões à maioria. A Liga Europa é "baixa".

Não é propriamente uma novidade, já se notou esta tendência noutras temporadas; mas os recentes desempenhos de Manchester City frente a equipas portuguesas e, sobretudo, o nível de jogo e empenho do Manchester United fizeram-me recordar este assunto.

Comecemos pelo City. Em Alvalade não pareceu muito preocupado em ganhar o jogo. Em casa, mérito para a sua segunda parte, mas só se lembrou que poderia seguir em frente demasiado tarde. E o Sporting aproveitou.

United tinha tudo controlado... tinha?

O caso do United foi mais notório e até mais prolongado. Alex Ferguson - ou alguém do clube - deve ter pensado: "Um grupo da Liga dos Campeões com Benfica, Basileia e Otelul? À quarta jornada estamos apurados". Titulares poupados e postura demasiado relaxada (ou arrogante) contra portugueses e suíços e o resultado foi de facto o apuramento... para a Liga Europa.

Na segunda divisão europeia, depois de eliminar à tangente o Ajax, seguiram-se duas derrotas frente ao claramente superior Atlético de Bilbau. Na partida em Espanha, a meio da segunda parte Ferguson, a perder, fez duas substituições, colocando em campo... um médio e um defesa. Era altura de pensar no campeonato.

Esta visão inglesa pode ainda verificar-se nos comentários que antecederam os duelos do City com o Sporting: ou conheciam alguns jogadores "leoninos" por vídeos, ou nem sequer conheciam.

Alguns leitores poderão questionar: então e os 4-0 sobre o FC Porto? Pois, mas creio que concordam que o resultado é enganador. Os campeões nacionais nem mereciam perder em Manchester. Goleada, nem pensar.

Descubra as diferenças

Se viajarmos de Manchester até Londres, e por conseguinte da Liga Europa para a Liga dos Campeões, passamos a jogar ao "descubra as diferenças". O Arsenal foi eliminado pelo AC Milan, mas em casa esforçou-se muito desde início, ganhou por 3-0 e faltou pouco para igualar a eliminatória. O Chelsea contrariou as probabilidades e goleou o Nápoles. Embora aqui o objetivo da garra de alguns jogadores também tenha sido outro.

Toda esta postura será fruto de uma ambição elevada? Desprezo pela segunda divisão europeia? Por vezes, neste contexto, recordo-me dos norte-americanos: os campeões da NBA (basquetebol) são considerados "world champions" e a final da MLB (beisebol) é intitulada 'World Series', como se o resto do planeta desportivo não tivesse importância. E a verdade é que, para eles, não tem.

Será sinónimo de querer manter a tradição? Lembramo-nos de Manchester United, Liverpool, Notthingham Forest ou Aston Villa - todos estes clubes já foram campeões europeus, o que torna a Inglaterra o país com mais representantes na lista dos vencedores da competição.

O que é certo é que, por ambição, arrogância ou tradição, nos dias que correm defrontar um adversário inglês nas provas europeias da UEFA é perigoso. Mas só na Liga dos Campeões. O resto pouco lhes interessa.