Entre a espada e a parede...

Fez uma semana que terminou a aventura londrina de André Villas-Boas. Recordando a viagem atribulada de AVB ao comando dos Blues, facilmente se percebe que o jovem treinador estava condenado ao insucesso. Acho que o próprio o sabia muito antes de ser despedido. No final fica a imagem de um treinador desorientado, desgastado e terrivelmente só. A balança do poder pendeu para os ‘homens da casa’, muitos deles mais velhos que o próprio treinador, que foram exprimindo publicamente o desprezo que tinham pelo estilo minucioso do ‘forasteiro’.

Cedo se percebeu que AVB estava entre a espada e a parede. Se por um lado estava em guerra aberta com as vedetas mais velhas do plantel, por outro tinha a figura de um presidente que nunca lhe deu o apoio total que ele necessitava. Impunha-se uma tomada de posição categórica do dirigente máximo do clube, para por cobro ao motim que se alastrou no plantel. Apesar de o apoiar publicamente, Abramovich tolerou de forma inexplicável a insubordinação de alguns membros da equipa. AVB precisou de ajuda mas ela nunca chegou.

Foi-lhe vendido um projeto a longo prazo, sendo que o primeiro ano seria o da transição, no qual se pretendia regenerar e rejuvenescer uma equipa envelhecida, trabalhando-a de modo a que praticasse o futebol atrativo que Abramovich tanto aprecia. Pretendeu o russo que essa transição fosse feita de forma suave mas sem nunca deixar de lutar em todos as frentes. Missão apenas possível na cabeça do oligarca. Para que as coisas saíssem bem feitas era preciso tempo e paciência. Tempo que AVB ou outro treinador que viesse, sejamos realistas, jamais teria neste Chelsea do bilionário russo.

Consta que AVB trabalhou que nem um louco para dar a volta à situação, chegando a dormir muitas noites no centro de treino. Fê-lo inclusive na véspera de ser demitido. Era o primeiro a chegar e o último a sair. As 12 horas diárias que dedicou com regularidade ao clube, de pouco serviram no final. Nunca o poderão acusar de falta de empenho nem tão pouco de ter desistido quando as coisas começaram a correr para o torto.

O rosto da oposição a AVB foi sem dúvida Frank Lampard. É curioso o papel que este jogador desempenhou na passagem dos técnicos portugueses pelo emblema londrino. Com Mourinho, e no auge da sua carreira, foi talvez o jogador que o “Special One” mais apreciou pela sua dedicação, empenho e liderança pela positiva dentro do grupo de trabalho. Com AVB virou a besta. Aos 33 anos, e relutante em ceder a sua posição no onze inicial, Lampard nunca escondeu o mal-estar que cada ida ao banco lhe causava. Rodeou-se habilmente de outros contesttaários e foi a partir desse momento que o sonho de AVB começou a ruir. A postura intragável desta ‘quadrilha’ ainda é algo que me revolta. Foram o vírus que acabou por contagiar e condicionar o resto da equipa e nunca perderam uma oportunidade de presentear os media com desabafos e amuos vários à medida que os seus minutos escasseavam em campo. Não me recordo de ver a vida deste clube tão escancarada na imprensa. Com Mourinho era bem diferente...

Poder-se-á dizer que AVB ainda não estava pronto para um desafio deste calibre. A colagem excessiva ao culto de Mourinho feita pelos ingleses e sistematicamente rejeitada por AVB perseguiu-o até ao fim. Com o plantel atual e com um presidente que percebe mais de iates de luxo do que de futebol, este clube tornou-se uma armadilha para qualquer técnico competente e sério. Diga-se de passagem que é uma armadilha simpática e de chorudas indemenizações para os treinadores que se sentam neste carrossel louco.

Para onde irá AVB a seguir? Já se fala no Inter mas espero que tal não se confirme. Será possível ir para mais um clube onde irá herdar o fardo pesadíssimo de José Mourinho? Moratti e Abramovich são farinha do mesmo saco e AVB merece um clube com um projeto sólido e que lhe dê espaço para impor a sua filosofia atacante que cativou os adeptos. Merece também seguir o seu próprio caminho e deixar definitivamente para trás a sombra do seu antigo mestre. Está na hora de AVB ser apenas AVB.

(Pedro Mota é um adepto atento e especialista no fenómeno futebolístico)