Barça e Real implicados no processo de doping sanguíneo

Fuentes diz que há desportos contra os quais não se pode irO diário francês refere que teve acesso a alegados planos de preparação elaborados por Fuentes para os ditos emblemas, nomeadamente para a época 2005/2006 na qual o Barcelona foi campeão espanhol e europeu, referindo a existência de siglas suspeitas associadas a períodos intensos de competição que terão sido encontradas também nas indicações do médico para os ciclistas da Liberty Seguros, uma das equipas envolvidas na "operação Puerto". A polícia espanhola considera, no que concerne ao ciclismo, que as siglas em causa escondem os nomes de produtos dopantes. Oficialmente Fuentes não integra as equipas médicas dos quatro clubes de futebol citados, nem tem quaisquer contratos assinados com os mesmos, mas o Le Monde sublinha que o doutor «transmitia as suas instruções para os tratamentos médicos por via do médico de equipa ou recebia a visita de certos jogadores». E o jornal salienta que o ex-ciclista Jesus Manzano lhe confirmou que numa das suas visitas a Fuentes se cruzou com «um jogador de Madrid» que se recusa a identificar.Na imprensa espanhola surgiram notícias da tentativa do Barcelona contratar Fuentes em 1996 e em 2002, mas invocando razões familiares o médico não aceitou os convites. Em entrevista ao Le Monde Fuentes recusa dizer se trabalhou em algum momento com Real Madrid ou Barcelona, fazendo uso do valor de confidencialidade que se lhe exige como médico. O clínico nota contudo que o «ameaçaram de morte» e que lhe disseram que «se disser certas coisas, eu e a minha família podemos ter problemas graves», refere no jornal. «Há desportos contra os quais não podemos ir, pois dispõem de uma maquinaria legal muito forte para se defenderem», acrescenta.Na mesma entrevista Fuentes admite que tem futebolistas como clientes e diz que trabalha com clubes da primeira e segunda divisões espanholas e às vezes com jogadores directamente, frisando que é procurado para «optimizar o rendimento, evitar as lesões e retardar o aparecimento de fadiga». Quanto às acusações que lhe atribuem o médico alega que não cometeu «nenhum delito contra a saúde pública», frisando que «em 29 anos de exercício profissional, nenhum dos [seus] clientes teve o menor problema de saúde». «Consagro-me à protecção da saúde dos desportistas que recorrem a mim», adiciona, frisando que «é o desporto de alto nível que é perigoso para a saúde» devido aos «calendários super-ocupados» e a «percursos criminosos que desenham os organizadores das provas em benefício do espectáculo». De resto Fuentes é muito claro na sua posição quanto ao doping, considerando que «o desporto de alto nível é a única profissão do mundo onde é mal visto que o profissional recorra a ajudas para melhorar o seu trabalho». «Se um desportista põe em perigo a sua saúde para a prática da sua disciplina eu reajo como um médico; se o medicamento utilizado para o proteger está na lista de produtos dopantes isso é secundário», afirma Fuentes no Le Monde.Susana Valente