Todos nós conhecemos imagens icónicas que não o eram antes de se tornarem. Marilyn Monroe com a sua saia esvoaçante sobre uma conduta de ar, o quadro do menino da lágrima, a imagem altiva de Che Guevara cuja foto foi tirada num momento descontextualizado deste a ouvir um discurso de Fidel Castro - são momentos cujos cliques ou pinceladas não tiveram consciência da dimensão e repercussão futura que aquelas imagens atingiriam.

Isto a propósito de algo que vai perdurar décadas e se tornará icónico no futebol português. O ano do quase de Jorge Jesus, traduzido naquela imagem pungente ao minuto (também ele icónico) 92, Jesus prostrado (ao contrário do original crucificado) e ajoelhado junto à linha lateral, quase a desfalecer, após a constatação de que o impossível havia acontecido: um miúdo com crista de punk acabava com o sonho da época perfeita.

Sei que esta descrição e comentário soarão a gozação de um adepto portista, mas não deixa de ser a pura realidade. O futebol também é isto, é feito de momentos que ficam para a posteridade, pelo seu caráter genuíno. Quem não se lembra da já célebre corrida desenfreada com o seu já famoso casaco do special one em Manchester? Quem não se recorda da situação memorável de Madjer, em 1987, em Viena? Após o FC Porto já haver empatado com o seu inesquecível calcanhar, esgotado e com cãibras, sai do recinto de jogo, é assistido pela equipa médica, levantado como se de um móvel se tratasse, e entra em campo para gizar uma jogada magistral com um dos dribles mais desconcertantes que jamais vi serem feitos a um defesa...

São cliques, imagens e momentos que ficarão para sempre no imaginário de todos os adeptos da bola. Pois eu tenho quase a certeza que aquele momento de prostração de Jesus será um desses. Ficará para sempre registado na memória coletiva de todos que, incrédulos, assistiram ao maior volte face num final de campeonato, que todos julgavam entregue, principalmente Jesus. O seu humano desfalecimento, ajoelhado, representou para ele a constatação de que afinal o "mestre da tática" não domina um dos seus princípios: quem joga para empatar, tem mais hipóteses de perder...

Uma imagem icónica, um momento para a posteridade.