Dantes... | Relvado

Dantes...

Para a próxima, deixem-nos ficar pequenos! Não nos queremos esquecer das regras das escondidas nem p
 

Eu, um parvo, ainda sou do tempo em que subir vezes sem conta uma ladeira de bicicleta a pé, e depois descer a mesma ladeira em cima da bicicleta sem travar e só com uma mão ao volante era uma festa.

Às vezes caía-se, e chorava-se, e havia sangue. Mas era uma festa.

Tardes inteiras passadas assim, com uma bola pela rua onde se ia dando pontapés.

Inteiras também eram outras tardes, em que se juntavam uns 5 ou 6 rapazes para jogar às escondidas. Desgraçado daquele que teria o azar de começar a contar até cinquenta e um, e que só teria oportunidade de se esconder quando se parasse com o arrebenta a bolha e as batotices. O Pedro lembra-se...

E noites? Noites a jogar à bola sem ver a bola. Onde metade dos pontapés iam parar à ladeira, e onde íamos todos a correr para a apanhar. Sem medo dos carros. Sem medo de ninguém.

Depois, alguém nos disse para não correr a descer ladeiras. Alguém nos faz crescer sem nos perguntar se queríamos, e paramos com a bola à noite e com as escondidas.

Passamos a andar bem vestidos e a atar os atacadores. E crescemos mais. Crescemos tanto que até já custa correr atrás da bola, e onde as regras das escondidas já não estão bem presentes. Trocamos as descidas de bicicleta por um jogo de computador e chamamos a uns cliques um divertimento.

Para a próxima, deixem-nos ficar pequenos!

Não nos queremos esquecer das regras das escondidas nem parar de jogar à bola à noite sem medo de ninguém.

Não queremos deixar de descer ladeiras de bicicleta só com uma mão, e não nos importamos de cair às vezes!

Não nos importamos de ser os desgraçados que calham a contar!

Queremos isso tudo e prometemos portarmo-nos bem e atar as sapatilhas.

Abraços. Um parvo.

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