Apito Dourado: Valentim e João Loureiro absolvidos

Percebo o que defendem...mas o sistema de justiça existe. Aliás, está bem vivo. Vive é pelos caminhos errados. Para todos os efeitos, processar um processo judicial é um inferno burocrático. As nossas infra-estruturas sociais são um caos completo, fruto de uma permissividade brutal no pós-25 de Abril, cujos erros ainda hoje pagamos. Não estou aqui a defender regimes de ordem fascista ou de extrem direita (nem tampouco sou de esquerda). Apenas acho, e não é de agora, que o povo português, com tudo o que acarreta o nosso sangue latino...acomodou-se. Já não queremos lutar. Não acreditamos nossos governantes. Desconfiamos de algo que beneficie o nosso vizinho e não a nossa pessoa. O sistema de justiça, à semelhança de muitas das nossas leis, é interpretado ao sabor da corrente...ou, na grande maioria dos casos, ao sabor do poder. O que se pede é equidade e coerência. E aí, nem na justiça, nem na sociedade em geral, o português a consegue adquirir. Somos um povo mesquinho...e antes de exigirmos justiça, há que a merecer. Falta-nos civismo, uma cultura de trabalho e desenvolvimento. Esses países que referes têm-na. Parte da minha família é sueca...e aquele país funciona. Contudo, é povo sizudo, que parece que perde muito depressa a alegria de viver. Nós é precisamente ao contrário. Preferimos a tal "alegria de viver", sensação meramente efémera...em detrimento de um constante desenvolvimento do nosso país. Não duvido de que sistema judicial mais célere, mais concreto e correcto seria parte da solução...mas não resolvia a totalidade dos nosso problemas enquanto país e sociedade.

O problema não é o Sócrates. São anos e anos de vícios instaurados, de lobbys formatados para o mesmo lado, num proteccionismo desmesurado a personagens cujas mais valias entram em conflito com um certo sentido de civilidade, pelo qual o nosso país deveria de primar. A avaliação numa empresa privada, segundo o que sei, é feito por consultadoria, através de entidades externas, precisamente para evitar a sujeição ao lobby e afins. Quem trabalha bem, não tem nada que recear no que concerne a avaliações. O problema começa nas infra-estruturas da nossa sociedade, que aplaude os calões, protege o carreirismo...mas coloca de lado a iniciativa, regra geral sob o pretexto da ausência de experiência. Até te dou um exemplo: está para breve a revisão do meu contrato. Segundo o que consegui apurar, o Estado está a querer instaurar um processo de redução salarial na função pública, invalidando a progressão e os anos de serviço, bem como as chamadas notações profissionais. Dividiu as folhas salariais em três categorias, sendo que somente a 3ª contempla a permanência do salário auferido actualmente. As restantes levam a uma redução que pode chegar aos 200 euros! Tudo indica que me será proposta esta redução...em função de uma suposta juventude, invalidando o facto de que já tenho quase 8 anos de casa, e sempre me coloquei no top 5 das avaliações internas. Por outro lado, um ser qualquer, com mais anos de carreira que eu, colocado noutro lado qualquer, pode candidatar-se ao meu lugar...fica automaticamente colocado...e até recebe um aumento salarial. Isto cabe na cabeça de alguém??!! E a cereja no topo do bolo...caso ponha o meu lugar à disposição e for para o fundo do desemprego, fico a ganhar mais que o meu ordenado após a redução salarial proposta!!! Ou seja, temos aqui um dos paradoxos da nossa sociedade, que não apela nem desenvolve a continuidade em quem merece (modéstia à parte, acho que mereço). Olho para o lado, e vejo velhos que nem fazer um .pdf sabem exportar...a levarem para casa perto de 3000 euros por mês, isentos de qualquer tipo de avaliação, pois estão no topo da carreira...topo que alguém com a minha idade já não consegue atingir, pois o governo achou por bem congelar as progressões. Isto já foi alvo de processo em Tribunal...e adivinha lá quem é que ganhou? Não temos uma política virada para o cidadão nem tampouco com visão de futuro...mas sim na tentativa de proteger o imediato, sem assumir o risco ou de investimento. E isto desdobra-se em várias áreas. O juiz "banal" é Deus, de facto...mas um Deus muito selectivo, que não atenta contra a estrutura que o alimenta. Enfim...desculpa o longo desabafo. Abraço.