Crónica: Uma história de amor, um Benfica sonhador

Pré-temporada, jogadores a chegar, outros a partir, jornais com manchetes deste e daquele jogador, milhões para aqui e para ali, mais uma época findada, outra começava, o Benfica acautelava o futuro com jogadores de renome e jovens de valor. Fiquei eu estupefacto, algo tinha mudado. O Benfica começava uma época com real planeamento a todos os níveis.Seguiram-se os torneios de Verão, os jogos amigáveis. Como no Coliseu, "começaram os jogos"! Benfica marca o primeiro golo, seguido de outro e mais outro, começam a chover os elogios ao novo mago da Luz de seu nome Jesus, começam as primeiras goleadas. Desconfiado, envergonhado até, pensei e pensámos nós todos "que Benfica é este? Um Benfica de Verão? Um fogacho de Benfica? Cautela meus amigos, serenidade é que o é necessário.Mais um jogo, mais uma goleada, mais futebol bonito, vistoso, com momentos de grande qualidade. Começava a empolgar ver o Benfica jogar. Pensei: é pré-temporada, não vai durar muito. Calejado do passado não queria estar a cometer o erro de embandeirar para no final não festejar.O Benfica vence os torneios todos de pré-temporada, a equipa motiva os adeptos e os adeptos saem do negrume em que viviam, o Estádio da Luz enche para receber o senhor Eusébio e os italianos do Milan. As camisolas pretas do Benfica vendem-se como nunca, os adeptos enchem o estádio num dia que seria de festa independentemente do resultado. Antes do jogo aparece nos monitores do estádio um rapazito alto e forte de seu nome Javi Garcia. Pensei eu: mais um? Para que é que o Benfica precisa de mais um? O Benfica vence o poderoso Milan num jogo amigável, mas os festejos dos adeptos soaram a Champions. Estava lançado o Benfica 2009/2010!Começa a época com um empate, estádio cheio, vozes ao rubro, o Benfica dá um recital de futebol atacante, mas Peçanha está em noite inspirada. O Benfica empata, mas a moral não desce, os adeptos continuavam empolgados com um Benfica vistoso. Seguem-se os jogos e mais do mesmo. Benfica forte, Benfica rigoroso, Benfica de ataque e os golos surgem em catadupa, os adeptos ficam extasiados com o futebol da equipa e querem mais, os jogadores respondem "afirmativo" e dão golos, goleiam, passeiam classe e talento.Foi o Setúbal de Azenha, aquele tal do outro que alugou o Eagle One e acabou por rumar a casa em low-cost, depois vêm os azuis do Restelo, Nacional do Machado e por aí fora. Agora era mais que coincidência, o Benfica estava de facto vivo, tinha encontrado a sua essência, os adeptos encontraram o seu gigante. A paixão estava de volta à Luz, já todos sentiam que eu, tu, ele, nós, vós, eles éramos todos Benfica. Mesmo assim, receoso, quase embaraçado, mantive a serenidade.Chega Dezembro e dor só uma, a tal da derrota na Luz com um Guimarães matreiro que nos arrumava da Taça, entretanto o balão enche com uma vitória na raça com o Porto, os adeptos respiram fundo, esticam o pescoço de orgulho. Este sim era o meu Benfica. Na imprensa surgem os casos, as dúvidas, as ilegalidades, o cansaço, as lesões, os jogadores "transferidos" por milhões. Saltando e cantando estava nas nuvens, sentia felicidade por ver o meu Benfica tão feliz, tão orgulhoso de si mesmo.Mais goleadas, desta vez ao Sporting, mais jogos, mais qualidade, mas agora mais maduros mais responsáveis. Na Europa já se falava de um tal de Benfica que marcava golos e jogava bem, surge Marselha. O orgulho, a paixão, a emoção, o eterno arrepio que percorre o corpo todo naquela fracção de segundo em que um tal de Kardec remata indefensável para o fundo da baliza de um Estádio Vélodrome em que muitos preconizavam que seria o fim do Benfica europeu. Sigam os jogos, o Benfica estava vivo.Vem o Porto e a Taça da Liga, Carlos Martins manda bomba, o estádio salta por 3 vezes e estava entregue taça. Chega o Braga à Luz no seu jeito matreiro preparado para fazer a festa perante 63000 pessoas. O Benfica do capitão Luisão diz em voz alta: não, não hoje e aqui não!. Estavam passados os jogos mais importantes até então e o Benfica vence, convence, remata para golo, festeja com os adeptos. Um Benfica sedento de glória, um Benfica dos adeptos do desporto. Estavam feitos 104 golos na temporada, 104 bons motivos para saltar da cadeira, sentir a vibração.A época ainda não acabou, mas este Benfica respira, este Benfica orgulha, este Benfica pode terminar sem nada, mas ganhou o futuro, ganhou o amor dos seus adeptos, ganhou o respeito dos seus seguidores. Afinal de contas, este é mesmo o Benfica à Benfica! Virão outros capítulos porque, meus amigos, esta história está longe de estar acabada! O próximo escreve-se em inglês, mas espero eu e esperamos nós todos que se festeje em bom português. Viva o Benfica!slpaulito