A Crónica da Semana

O pequeno grande Porto
por Rasputin

Na altura das grandes vitórias pode-se aquilatar com mais precisão a grandeza
dos clubes e das respectivas massas adeptas. Por alturas da recente passagem do
FC Porto à final da Liga dos Campeões, foi possível verificar com evidência que
os simpatizantes azuis e brancos estão bem impregnados dos vícios
regionalistas, de vitimização constante, do "contra tudo e contra todos" que é a
imagem de marca do presidente Pinto da Costa.
Para além do júbilo e alegria (merecidamente) demonstradas, multiplicaram-se
entre a multidão azul e branca os impropérios dirigidos ao presidente do
Sporting, Dias da Cunha e, imagine-se, à operação Apito
Dourado.
A sabedoria popular tem 2 frases que assentam que nem uma luva a esta situação:
"Só as verdades incomodam" e "Quem tem a consciência tranquila, não teme a
justiça". Será caso para perguntar: o que incomoda tanto os adeptos do Porto
para substituírem as horas de celebração pelo ataque desenfreado a
terceiros?! O que temem que a justiça venha a revelar num caso que, até
agora, não lhes diz directamente respeito?

Tudo isto no fundo é resultado da estratégia delineada e fielmente seguida por
Pinto da Costa desde que iniciou o seu postulado à frente do FC Porto. À
medida que foi tornando o clube maior, mais forte e mais poderoso (a todos os
níveis), foi ao mesmo tempo amorfinhando a mentalidade da massa adepta,
moldando-a a um fundamentalismo "pintista" que saboreia as vitórias não pelo
sucesso intrínseco das mesmas, mas por serem contra alguém ou algo.
Pinto da Costa está sempre a combater o "inimigo" dentro e fora do campo,
acolhendo aliados ocasionais e "disparando" contra as maiores ameaças do
momento, tornando o seu discurso hipnótico uma verdadeira arma alienadora da
imensa legião de "Bobbies e Tarecos" que o seguem incondicionalmente.

Por isso o Porto vai acumulando vitórias, mas vai também, simultaneamente,
negando cada vez mais a sua condição de clube nacional, que o sucesso deveria
implicar. O Porto ganha no estádio, mas perde na simpatia. O Porto vence
competições, mas perde ao reforçar a sua condiçao de clube de uma cidade ou, no
máximo, de uma região. E mesmo os exemplos vindos de dentro são claros das
"limitações" do clube. Veja-se a forma como 2 dos bastiões da actual equipa
tratam a respectiva instituição. Mourinho negoceia com o Chelsea pela "porta do
cavalo", sabendo que os milhões de Abramovich calarão qualquer "desconforto" do
seu presidente. Deco mantém a sua postura de que, só saindo para outro clube
(estrangeiro), verá reconhecido o seu estatuto de jogador de topo.
O Porto, por mais sucessos que obtenha, continua a ser um ponto de passagem
ou um mero "trampolim" para algo mais.

Pinto da Costa não é eterno. Salvo qualquer operação "Quinhentinhos Dourados",
ainda terá largos anos à frente do clube. Inclusivé, muitos já confundem a
instituição com o próprio presidente. O clube provavelmente continuará com a
presente dinâmica de vitória que resulta, em parte, do "brilhante" trabalho de
base que foi feito durante os anos 80 e 90. Mas a expansão do clube como um
fenónemo de massas a nível nacional, ou mesmo o seu papel como uma "bandeira"
representante do nosso país, permanecerá, confrangedoramente, limitado.
O Porto actual é grande em futebol, mas pequeno em mentalidade. O FC
Porto aprendeu a não perder, mas chumba constantemente no teste do saber
ganhar.

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