Alguém pode censurar Marco Silva?

O Porto fez uma grande exibição no último clássico. O seu treinador esteve muito bem, aliás, tem estado bastante bem nos últimos tempos, ultrapassando uma penosa adaptação ao futebol português, em que lhe deram tudo o que ele quis, e ele tardou em justificar tamanho investimento. Isto é tudo verdade, mas sem beliscar tudo o que foi dito anteriormente, a verdade é que Marco Silva esteve muito mal, não só no jogo, mas na semana toda.

Primeiro, era quase consensual para toda a gente que o Sporting só conseguiria fazer um grande jogo, dos dois que tinha em menos de 72 horas, e quando se fala em grande jogo, fala-se em jogar assumindo o jogo. Marco Silva tentou fazê-lo e o resultado foi o que se viu.

Segundo, mesmo tentando fazer essa proeza, teria que trocar alguns dos jogadores titulares no primeiro. Tal não aconteceu, e a equipa foi uma sombra daquilo que fez na 5ª feira.

Terceiro, desculpando Marco Silva, o facto de não ter um plantel vasto, não ter jogadores no banco em quem confie, e para os mais românticos, a imagem europeia era importante para o clube, a verdade é que se a opção era ir atrás da eliminatória frente aos alemães, mandava o pragmatismo que no domingo a estratégia da equipa mudasse, para a equipa ter pulmão para aguentar, jogar menos esticada, jogar mais recuada, com os sectores mais juntos, dando menos metros de ação a cada jogador, jogando para o empate, com olhos em algo mais.

Resumindo, o Sporting poderia ter apostado forte num só destes dois jogos, poderia ter apostado nos dois com jogadores diferentes, ou poderia ter mudado de estratégia para o jogo frente ao Porto. Ao não mudar nada, Marco Silva concorreu para este resultado a cheirar a humilhação.

Dito isto, volto à pergunta do título do artigo: quem é que pode censurar Marco Silva por errar? Quando estamos sempre a ouvir dizer aos tipos que andaram lá dentro que o essencial para uma equipa ganhar é puxarem todos para o mesmo lado, vimos Mourinho a claudicar no Chelsea quando o seu presidente andava a emprenhar pelos ouvidos, vimos o mesmo Mourinho no Real a tomar decisões estranhas fruto do cansaço daquelas guerras internas. Claro que Marco Silva está desgastado, claro que aquele episódio rocambolesco do despedimento pode estar mais esquecido mediaticamente mas continua bem presente na vida interna do Sporting. Claro que falta trabalho conjunto, em equipa, entre Presidente e treinador - a questão do central é bem exemplar disso - e claro que, se existe equipa que deveria ter feito bandeira dessa unidade em volta do treinador, era o Sporting, até para suprir as carências que tem face aos seus adversários diretos.

No futebol poucos milagres existem, e isto que está a acontecer ao Sporting não é nada de estranhar, tendo muito mais de Bruno do que de Marco.