Acabou-se o estado de graça de Sá Pinto

Qualquer sportinguistas que fosse, mesmo o mais cético, via em Sá Pinto um símbolo recente do clube. Não exatamente pelo que ganhou de leão ao peito, mas pela raça, pelo querer, pela atitude, tudo quanto se resume numa simples palavra – mística.

Sá Pinto representava para o adepto leonino a mística do que é o Sporting de Portugal. No ano passado, quando se olhava para o banco de suplentes de Alvalade e vislumbrava-se lá Domingos Paciência, alguma coisa parecia errada – demasiada conotação portista – diria eu, faltava-lhe a chamada mística leonina. Foi reiterando essa mística que Sá Pinto reentrou no reino do leão, agora como treinador, com o discurso do “esforço, dedicação, devoção e glória”.

O leão despertou, rugiu bem alto para toda a Europa ouvir, ergueu-se das cinzas, como nas lendárias histórias dos grandes heróis. A equipa traduziu a máxima em campo. Parecia uma história perfeita, sem máculas. Mas certo dia, uma nuvem bem negra fixou-se sobre o Sol do Jamor. Um Sporting cinzento perdia contra uma Académica destemida e sonhadora. O jogo desenrolava-se e, na urgência do golo, Sá Pinto cometeu vários erros táticos e de leitura dos acontecimentos (não foi a primeira vez, mas foi certamente aquela que mais lhe pesou). Pior do que isso, a equipa foi o oposto da máxima leonina - a mística tinha ficado em casa.

Um percalço do momento, pensaram os adeptos, eu diria dois, porque a segunda mão, em Bilbau, começou a ser perdida logo no onze escolhido para enfrentar a batalha. Mas desde logo, com bastante celeridade, a direção renovou o contrato de Sá Pinto – o assento de sonho era para durar. É então que começa a nova época cheia de ilusões (apenas uma pequena nota para a fraquíssima pré-época), mas a nuvem do Jamor continuava a pairar sobre os céus de Alvalade.

Táticas erradíssimas, leituras dos jogos completamente desfasadas, jogadores em baixo de forma e cabisbaixos, jogadores fundamentais fora de plano, substituições falhadas, etc.. Maralhal de más decisões. Pior do que isso, a mística latente na máxima leonina parece uma miragem. A equipa já entra a perder, sem ganas, sem arte, sem procurar a baliza adversária e, acima de tudo, sem capacidade para inverter a situação desfavorável em que se encontra. E esses juros têm que ser cobrados a quem tantos créditos da massa adepta tinha.

O discurso de Sá Pinto é tão desfasado da realidade do jogo apresentado que, das duas uma: ou a intenção é retirar a pressão de cima dos jogadores; ou então não é treinador para o Sporting. Preferiria acreditar na primeira opção, mas a segunda hipótese é a que ganha mais força. Alvalade começa a sentir isso mesmo, e voltou já a ouvir-se o habitual "joguem à bola", seguido do novíssimo "aperta contigo Sá Pinto, onde anda o nosso Sporting?"