Porquê tanta demora?!

Mas será que a maioria das claques merece algum respeito? Já que hoje o tema de abertura do relvado foi fundamentalmente a propósito de claques vou aproveitar para referir uma passagem que assisti no antigo 1º de maio, num jogo que curiosamente envolveu os dois clubes que referiste: Tinha eu os meus 12/13 anos e num domingo à tarde, como era de costume, eu e um grupo de amigos resolvemos ver o jogo, talvez o acesso gratuito ao estádio fosse o principal estimulo mas o nosso gosto pela bola era também bem forte nessa altura, adiante, dirigimo-nos para o local do costume, por detrás de uma baliza que era o sitio onde nós os mais novos nos concentrávamos e curiosamente era onde ficava sempre a claque adversária. O jogo estava prestes a começar e as bancadas estavam já a ficar compostas. A nossa adrenalina era contagiante, ainda hoje recordo essas tardes com um sorriso, mas esse domingo ficará para sempre gravado na minha memória, passavam já 5 minutos do apito inicial quando ao longe avistei um senhor idoso a aproximar-se acompanhado por uma menina de 5/6 anos, aquela presença proporcionava um conforto enorme, apercebi-me depois que o objectivo do idoso era que a neta(talvez) se pudesse sentir bem nos próximos minutos daí ter optado pela bancada mais jovem. Antes de chegar ao pé de nós teriam de passar pela claque rival, que mal se sentisse ameaçada por olhares alheios respondia sempre com olhares agressivos, insultos, etc... Quando o idoso e a menina passaram por eles, tinha a certeza de que a imagem que transmitiam iria certamente ser vista com apreço por todos os olhos que os seguiam, eu estava enganado, quando o senhor passava a frente da claque, dois membros levantaram-se quase por instinto para arrancar a força o cachecol velho e insignificante do pescoço do senhor, ao tentar defender-se o senhor acertou em cheio no focinho (sim, focinho) dum, o que levou a que mais 3 se levantassem também para agredir violentamente o velhote. Aquilo fez-me uma pressão insuportável no peito, que por momentos achei que iria explodir, a juntar à minha raiva estavam também os choros desesperados da criança que era segurada por outro marginal. Quando vim novamente a mim libertei um grito ensurdecedor, que acompanhava o coro dos gritos dos meus restantes amigos a pedir ajuda (infelizmente a nossa tenra idade não nos permitia mais) e quando ela finalmente chegou por senhores mais velhos de outras bancadas, já os marginais se tinham escapado ficando apenas o senhor ali estendido e ensanguentado com a menina a tentar conforta-lo. Ainda tentaram localizar os causadores mas ao que parece já teriam abandonado o recinto e ficando o resto da claque imune de culpas. Quando cheguei a casa chorei como um puto (eu era um puto) quando as imagens me voltaram a vir à memória, não eram lágrimas de pena mas sim de revolta por haver gente cruel capaz de fazer aquilo a um senhor indefeso e acompanhado por uma criança... Decidi abandonar a rotina que levava aos domingos. Hoje, apesar de reconhecer os riscos que iria correr, não me teria ficado pelas lágrimas! É triste que para além de tudo de bom que o futebol possa trazer também traga episódios como este... E a existência das claques faça do futebol uma guerra.