No futebol são oito contra onze e no fim ganha o Feirense | Relvado

No futebol são oito contra onze e no fim ganha o Feirense

Poderia ser a nova frase de Gary Lineker. E até teria alguma piada… se não fosse verdade.
 
Miguel Pedro no ar (U. Leiria-Feirense)
Lusa

Decorria o Mundial de 1990, em Itália, e nas meias finais a Inglaterra perdia com a Alemanha. No final do jogo, Gary Lineker disse: “o futebol é simples: são 22 pessoas que andam a correr, a jogar à bola… e no final ganha sempre a Alemanha”. Duas décadas depois, o ex-internacional inglês poderia adaptar as suas palavras famosas, se este domingo tivesse assistido ao duelo entre União de Leiria e Feirense.

A situação é pública: com tantos jogadores que rescindiram (ou não rescindiram?) a União ficou só com oito atletas para defrontar os homens de Santa Maria da Feira. E vá lá, conseguiram reunir oito. Poucas horas antes pensava-se que só seis estariam disponíveis.

Depois chegam os ataques e contra-ataques. E alguém a mentir, para não variar.

Os jogadores, apoiados pelo Sindicato de Jogadores, a quem foi pedida intervenção, garantem que avançaram para a rescisão coletiva; a SAD do clube garante que não recebeu qualquer documento nesse sentido. 

O capitão (ou ex-capitão?) Marco Soares garante que já há muito tempo que se verificavam falhas no cumprimento financeiro no emblema do Lis; João Bartolomeu chama “doutor” ao jogador, para logo a seguir lhe chamar mentiroso, pois tal nunca existiu.

O presidente da SAD leiriense conta, no final da derrota com o Feirense, que Keita fugiu com seis mil euros pouco antes de começar a partida; o médio do Mali diz que Bartolomeu é “doente”. Um dia depois a SAD garante que tudo não passou de um “mal-entendido”.

Entre tantas supostas garantias, convém sublinhar: estamos a falar do futebol em Portugal. Com todo o respeito pelos dois países, não se trata, por exemplo, do futebol do Liechtenstein ou da Estónia.

Portugal é um país que já recebeu, em quatro ocasiões, o troféu de campeão europeu de clubes; conquistou títulos internacionais de seleções nas camadas jovens e esteve na final de um Europeu sénior; e ainda no ano passado ocupou na totalidade a final da segunda competição mais importante da UEFA, a nível de clubes.

E, menos de um ano depois de Dublin, andamos nisto? Uma situação na qual a U. Leiria é só o expoente máximo – ou o bode expiatório, segundo os seus responsáveis – porque há outros panoramas que serão semelhantes ou piores, nas ligas profissionais.

Além disso, o leitor já terá reparado noutro “pormenor”: a duas jornadas do final da I Liga, alguém sabe qual vai ser a sexta equipa que vai representar o país na Europa? É que o Vitória de Guimarães, que provavelmente vai terminar o campeonato no sexto lugar, não terá cumprido os requisitos financeiros exigidos pela UEFA. Depois há o Nacional (que até para as viagens para o continente poderá não ter dinheiro em breve, quanto mais para o estrangeiro), os modestos Olhanense e Gil Vicente… Ou será o V. Setúbal? Ainda estamos por saber, pelo menos publicamente, que clubes se inscreveram nas competições europeias. É segredo de Estado. Para manter o mistério até final.

Creio que não restam muitas dúvidas em relação aos dois responsáveis principais por este cenário atual – ou nem tanto atual – no futebol nacional: dirigentes e, sobretudo, as entidades que fazem a supervisão. Uma supervisão que deve ser realizada muito na base do “olhar para o lado”. É a conclusão mais óbvia que tiramos.

Como se dizia recentemente num programa televisivo: tudo isto, se não fosse verdade… até teria alguma piada.

I Liga:

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