FC Porto-Académica: tornar fácil depois de complicar (CRÓNICA)

Com um balanço de doze vitórias caseiras consecutivas e embalado para o título, o FC Porto surgiu diferente. Menos agressivo, menos circulação de bola, menos Porto, no fundo. A turma portista entrou de forma lenta, previsível, incapaz de ultrapassar a teia bem montada por Ulisses Morais. Nos primeiros 40’, nem uma oportunidade flagrante de golo. Para uma equipa prestes a ser campeã nacional, era manifestamente pouco.

Uma “traição” de Addy, à passagem da meia hora, criou um cenário desconfortável e nada usual no reino do Dragão. O lateral emprestado pelo… FC Porto respondeu eficazmente a uma assistência de Sougou, castigando uma equipa muito longe dos níveis de concentração necessários para garantir o “objectivo interno” das cinco vitórias apontado por Villas-Boas.

À imagem do que tem sido visto, os dragões deixaram as decisões para a segunda parte, altura em que puseram o pé no acelerador e deram a volta ao resultado. E Villas-Boas saiu do Dragão sabendo que pode levar todos os “amarelados” à Luz, para o primeiro “round” do ataque final ao título.

Moutinho faz falta, mesmo cansado

André Villas-Boas, desta vez, surpreendeu. Primeiro, ao deixar Helton, com quatro amarelos, no banco, o treinador portista não arriscava um milímetro. Fê-lo mais à frente, optando por deixar no banco o desgastado João Moutinho, colocando os dois médios “à bica” – Fernando e Guarín – em simultâneo. Com bons resultados, como já se disse.

Maicon e Fucile ocuparam os lugares de Otamendi e Sapunaru, mas isso já se sabia de véspera.

Neste capítulo, falemos de Moutinho. O antigo capitão leonino há muito vinha acusando o cansaço, mas contra os estudantes foi o FC Porto quem se ressentiu da sua ausência. A Académica apareceu no Dragão com uma intenção clara de juntar as linhas mais atrás, mas ambiciosa à frente.

 Devagar, em futebol, não se vai tão longe assim

E se é verdade que o jogo se desenrolava mais no sentido da baliza de Peiser, também não deixa de ser um facto que a Académica foi uma equipa sempre incómoda. Antes do primeiro remate do jogo, autoria de Falcao, já Rolando tinha cortado uma bola com a mão em plena área, num lance que o árbitro deixou passar.

Do lado oposto, Falcao, muito só, era o único a tentar, mas não chegava, porque a equipa não “carburava”.

Em desvantagem, o FC Porto tentou aumentar o ritmo e esteve mais perto de um golo que não chegou. Hulk e Varela puseram Peiser à prova, Rolando cabeceou bem perto da baliza do francês. Ao intervalo, a vantagem justificava-se para os estudantes.

Não entra à primeira, dá-se um vendaval à segunda

O FC Porto entrou como se esperava no segundo tempo: a assumir que dera 45’ de avanço à bem organizada turma de Ulisses Morais.

O empate surgiu pelos pés do já habitual suspeito do costume, Guarín, da forma também já tradicional: de fora da área. Corria o minuto 55’. O FC Porto empolgou-se e arrancou para uma segunda parte de luxo.

A reviravolta chegaria por Maicon, aos 63’, numa cabeçada triunfal, que pôs André Villas-Boas e os 46 mil adeptos a suspirar de alívio. Um momento épico também para o central brasileiro, autor de uma época em sentido descendente, mas a fabricar um dos golos mais importantes da temporada, provavelmente.

Com o Dragão ao rubro, Varela só precisou de dez minutos para carimbar a primeira derrota da Académica na era Ulisses Morais, na recarga a um cabeceamento de Rolando à trave.

O vendaval continuou. A pontaria de Falcao e Hulk (ou falta dela) e Peiser evitaram mais estragos. Porque podiam ter sido mais. Ficou assim e chegou. A goleada teria sido um castigo ingrato para uma Académica que se bateu bem.

Segue-se a Luz, com festa do título já visível. Os cânticos, esses, já se ouviram.

As figuras:

Peiser: Sofreu três golos, sem culpas, mas evitou mais, com uma série de defesas de grande nível. É um guarda-redes de qualidade, este francês.

Guarín: Surgiu a titular e voltou a decidir à bomba, pelo quarto jogo consecutivo. Um golo decisivo, que despertou os dragões para uma grande exibição na segunda parte.

André Gralha: Num jogo sem grande dificuldade, o destaque vai para a mão de Rolando na área, logo aos 2’. O lance era passível de grande penalidade, mas o colegiado nada assinalou.